Ekev – Reciprocidade entre os Céus e a Terra

Na parashá desta semana, Moshe continua o seu grande discurso às margens do Rio Jordão (Yarden). Imagino o povo muito ansioso querendo cruzar logo o Yarden após 40 anos de travessia no deserto e sem saber exatamente o que os espera à partir da outra margem, tendo de ouvir esse longo discurso de Moshe. Quase como alunos em sua formatura ouvindo o discurso do diretor da faculdade, esperando para festejar.
No discurso que lemos em Ekev, Moshe novamente chama o Povo de Israel a cumprir as Mitsvot de Deus e fala sobre toda a recompensa que receberão aqueles que seguirem pelo caminho de HaShem. Um aluno já cansado do discurso poderia dizer que ele está sendo repetitivo, mas o caráter de “memória” nas palavras de Moshe seguem de forma bem contundente.
Moshe relembra as transgressões ocorridas desde a saída do Egito – o questionamento de sua liderança e até mesmo da liderança Divina, a fundição do bezerro de ouro, a história dos espiões e a descrença do povo, a gula das pessoas que não se satisfaziam com a abundância do Maná (alimento que caía do céu!!), isso sem falar das reclamações constantes de fome e sede e, provavelmente, a conhecida pergunta das viagens: “Moshe, estamos chegando??”.
No resumão que Moshe faz, ele conta como Deus decidiu, diversas vezes, aniquilar o seu Povo devido a estas transgressões, e revela todo o seu esforço e reza, pedindo e implorando (e conseguindo!!!) que Deus perdoasse o Seu povo e os conduzisse à terra prometida. Fala-se das recompensas que os esperam, inclusive das sete espécies que lá existem: Trigo, cevada, uva, figo, romã, olivas e tâmaras. Terra que jorra Leite e mel! Eles não precisam temer o que os espera pois Deus irá derrotar todos os inimigos e erradicar dentre os filhos de Israel, todas as doenças.
No final do trecho do discurso de Moshe desta semana encontramos o parágrafo do meio do Shemá Israel que rezamos diariamente: “E se obedecerem às minhas mitsvot que hoje vos ordeno, de amar ao Eterno, seu Deus, e serví-lo de todo seu coração e de toda sua alma; então darei chuva à sua terra a seu tempo, a chuva precoce e a chuva tardia…” (Deut. 11:13 e 14).
Entendo que amar ao Eterno de todo coração e alma seja um grande exercício de Fé. Acreditar naquilo que não podemos enxergar e nem nos relacionar com nenhum outro dos sentidos físicos é um exercício de Fé. Como nosso querido Rabino Ruben nos ensinou, no Curso de pensamento Judaico, a Fé começa onde não conhecemos, não sabemos. Acreditar que existe, e também que não existe algo que não conhecemos, é um exercício de Fé.
A mensagem deste trecho do Shemá pode ser bem resumida pelo refrão da música do Gil: “Andar com Fé eu vou, que a Fé não costuma falhar”. Quem acreditar e seguir as palavras de Deus terá Chuva. Quem servir aos falsos deuses, não terá chuva (essa é a maldição contida neste trecho que lemos completamente em silêncio!).
A relação entre a terra e a Chuva é uma relação de reciprocidade. A chuva molha a terra. A água da terra evapora e forma as nuvens de Chuva. Não consigo imaginar um símbolo melhor para representar o que entendo que esta parashá nos ensina. Representando o que há de mais elevado que podemos esperar da vida, está a chuva. Nós somos a terra.
Se nós soubermos como agir de acordo com as mitsvót da Torá, demonstrando nossa Fé no ato divino da criação, recriando e melhorando a obra Divina, garantiremos chuva em nossa horta!
Shabat Shalom
Dani Zekhry