Essa é a famosa parashá dos Dez Mandamentos. Mandamentos que foram ditos por Deus. A cena é fantástica: o monte Sinai em chamas e fumaça, relâmpagos e trovões.

 

Moshé já havia passado as instruções de que o povo tinha que manter-se puro nos três dias anteriores e que, chegado esse momento, não se aproximasse demais do monte, muito menos que subissem, o que poderia causar a morte de cada um que não cumprisse as orientações.

 

Não é a primeira vez, nem será a última, que Deus se manifesta em alterações magníficas da natureza. Moshé mesmo, quando é chamado por Deus, se encontra com a sarça ardente.

 

Mas o que me chama especial atenção é a necessidade de controlar o povo. Imagino-me na mesma situação: provavelmente sairia correndo para o outro lado e não em direção ao monte em chamas. Especialmente depois de ter testemunhado as dez pragas e a abertura do mar. Deus até agora se mostrou violento. Por que será que as pessoas se aproximariam, assim como Moshé, no passado, também se aproximou?

 

Logo antes dessa aparição milagrosa de Deus, o povo havia sido reunido aos pés do monte. A palavra utilizada em hebraico, betachtit (abaixo), foi interpretada de diferentes maneiras, pois ela dá a entender que as pessoas estavam literalmente embaixo do monte e não “aos pés”. Um midrash (Mechilta deRabi Ishmael) nos conta que o povo estava, de fato, atemorizado.

 

Quando se juntaram, foi de medo, e que nesse momento o monte se desprendeu da terra e o povo se reuniu abaixo dele, para se proteger do que estava acontecendo antes.

 

Ó minha pomba, que andas pelas fendas das rochas… Mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é agradável, e a tua face, aprazível!”

 

 

Esse versículo, tirado de Shir HaShirim (Cântico dos Cânticos) vem, no midrash, explicar o que faziam sob o monte. Escondidos sob ele, pedem que Deus se revele, e que essa revelação seja doce e agradável, já que Deus antes havia dito que os trouxe do Egito em asas de águia.

 

Essas imagens da águia e da pomba vem de alguma maneira aliviar a tensão. A pomba, por seu símbolo de paz; e a águia, por ser a “rainha das aves”, demonstra poder e amor. Deus tem em Si ambas as imagens, suavizando dessa maneira o medo pelos raios e trovões.

 

Então nesse momento, o monte talvez fosse a expressão de algumas facetas divinas: a assustadora e a acolhedora. Dessa maneira, Deus e Moshé tiveram que avisar o povo para não se aproximar tanto, e que, igualmente à distância, era necessário ter se preparado. Entrar em contato com Deus é uma experiência diferente, única e sagrada que não pode ser feita na leviandade. A relação que se formou com Deus nesse momento foi única.

 

Assim como pais disciplinam os filhos com amor, esse encontro no Sinai marcou o inicio desse amor. Deus com todo Seu poder também protege. Ensina e prepara, especialmente para a dificuldade.

 

Shabat Shalom.

Rabina Fernanda Tomchinsky-Galanternik