A parashá desta semana trata de uma característica do comportamento humano. Nos momentos de dor, desespero e necessidade, as pessoas procuram estar de bem com Deus. Fazem suas orações de maneira fervorosa, verificam as mezuzót de suas casas e cumprem uma pequena mitsvá com o rigor de uma grande. Contudo, quando tudo caminha bem é que surge o problema.
Dentro de uma situação estável em que a família tem saúde, não falta dinheiro para as necessidades cotidianas e a sorte nos acompanha, temos o costume de dar as costas à religião. Quando a vida segue seu rumo de maneira satisfatória, muitas pessoas deixam de pensar ou dialogar com Deus.
Justamente este perigo é lembrado na porção da Torá chamada Ékev (“se”, em hebraico). Assim está escrito: “Cuide-se para não se esquecer de Deus (…) depois de teres comido e estares farto, depois de teres edificado boas casas e habitado nelas (…)” (Deuteronômio 8, 11-12).
O texto nos promete boas recompensas se vivermos da maneira indicada pela Torá e, principalmente, se carregarmos Deus aonde formos, junto conosco. Os milagres que o Eterno realizou para o Povo de Israel durante os quarenta anos de andanças pelo deserto são citados como exemplos daquilo que receberemos se nos portarmos bem. Da mesma maneira, castigos são prometidos para aqueles que se desviam do caminho indicado.
“Não só de pão vive o Homem” (Deut. 8,3). Através destas palavras a Torá reconhece a importância do trabalho e da constante busca pelo sustento. Contudo, somos relembrados de que precisamos mais do que alimento físico. O nosso espírito também precisa ser constantemente “saciado”.
Uma vez satisfeitas as necessidades físicas, cabe a nós um cuidado especial em relação à alma. O estudo, a oração e a caridade são as maneiras religiosas tradicionais de se alimentar o espírito. Mas outras maneiras também são extremamente aconselháveis: como um passeio pelo parque ou uma boa peça de teatro.
Finalmente, próximo ao final da leitura aparece um trecho que foi posteriormente incorporado aos nossos sidurim (livros de reza) e que compõe a segunda parte da oração Shemá Israel.
Shabat Shalom
Rabino Michel Schlesinger