Neste Shabat leremos as duas últimas porções de Bamidbar, o livro de Números. Na primeira parashá, Matot, aprendemos que qualquer promessa feita em nome de Deus precisa ser cumprida. Segundo a parashá, a promessa feita por uma mulher poderia ser anulada por seu pai ou seu marido. A promessa de viúvas ou divorciadas não poderia ser anulada. Essas leis refletem a realidade social da época da Torá pela posição que a mulher ocupava dentro daquela sociedade, uma sociedade patriarcal.
Enquanto fosse menor de idade, a mulher estava sob o domínio do pai e, depois de adulta, vivia no domínio do marido. Obviamente essa realidade sofreu mudanças no curso da História. Vivemos hoje em uma sociedade na qual mulheres podem ocupar as mesmas posições que os homens. Prefeitas, juízas, médicas e engenheiras desempenham suas funções com absoluta liberdade. Por isso, muitas das leis da Torá referentes ao papel da mulher na sociedade precisam ser reinterpretadas para que condigam à nossa realidade.
Ainda nesta parashá, Moisés recebe a missão de derrotar os midianitas por terem incitado os israelitas ao culto pagão. Ele forma um exército de 12.000 pessoas (mil de cada tribo) e, assim, vence aquele povo. Depois da batalha, os soldados e suas ferramentas precisaram ser purificados com as cinzas da vaca vermelha (pará adumá) antes de retornarem ao acampamento. A limpeza era necessária para que o santuário (Mishkan) não fosse impurificado.
As tribos de Gad e Reuven queriam se fixar nas terras conquistadas além do rio Jordão. Contudo, Moisés nega o pedido e os acusa de traírem o projeto de conquistar a Terra Prometida e nela se assentar. Um acordo foi alcançado segundo o qual essas duas tribos, junto à metade da tribo de Menashe, poderiam se fixar ao leste do Jordão desde que ajudassem na conquista de Canaã, um por todos e todos por um.
Na parashá Massei lemos um resumo do percurso traçado pelo Povo de Israel no deserto desde a saída do Egito até a chegada na Terra Prometida; a divisão da Terra de Canaã entre as diferentes tribos; a orientação do estabelecimento de cidades de refúgio (asilo para homicidas) e o estabelecimento das leis de casamento e herança.
Quando olhadas em conjunto, essas duas leituras trazem uma potente lição. Precisamos ser capazes de diferenciar unidade de uniformidade. Cada tribo tinha sua característica e viveria em lugares diferentes, de maneiras distintas. No entanto, isso não significava que deveriam ser incapazes de colaborar entre elas e trabalhar em conjunto. Enquanto que a unidade é algo bem vindo, a uniformidade nos empobrece como nação.
Shabat Shalom
Rabino Michel Schlesinger