“Você pode ver a terra à distância, mas não deve entrar — à terra que está dando ao povo de Israel.” (Deut. 32:52)

Moshé soube que morrerá e não entrará na terra de Israel várias parashiot atrás. Todo ano, volto a me perguntar: o que lhe deu a força para continuar comprometido com Deus e com o povo? Como superou sua raiva, sua frustração e continuou a liderar, acompanhar, acolher, ensinar e abençoar o povo de Israel? Como fez para colocar seu ego de lado e preparar e formar os líderes que viriam depois dele?

O rabino Joseph Ber Soloveitchik (1903-1993), conhecido como o pai da ortodoxia moderna, escreve em seu livro Kol Dodi Dofek sobre os dois tipos de pactos existentes em nosso povo, que às vezes caminham juntos, mas nem sempre.

O primeiro tem origem no medo de uma ameaça, a união de autodefesa cujo objetivo principal é sobreviver. É o pacto às vésperas da saída do Egito, por exemplo. É um pacto baseado na nossa história coletiva, nos desafios que passamos juntos, nas perseguições, no sofrimento, na dor. É um pacto ligado ao nosso passado, às nossas raízes.

O segundo é completamente diferente. O rabino Soloveitchik o chama de “Covenant of Fate” (pacto de destino). Nesta aliança, o que nos une não é o medo, mas uma visão. São as aspirações que temos como povo, os nossos sonhos, ideais a conquistar e a realizar. Sonhamos, forjamos e criamos um projeto compartilhado de realização. É a aliança que começa no Sinai, recebendo a Torá e nos comprometendo com um destino comum.

Nas palavras do Rabino Soloveitchik: “O que é o Pacto do Destino? Na vida de um povo (como na vida de um indivíduo), o destino significa uma existência que ele escolheu por sua própria vontade e na qual encontra a plena realização de sua existência histórica. Em vez de uma existência passiva e inexorável, no qual uma nação é jogada, uma Existência de Destino se manifesta como uma experiência ativa cheia de propósito, movimento, ascensão, aspirações e realização. A nação está enredada em seu destino por causa de seu anseio por um estado aprimorado de ser, uma existência repleta de substância e direção. O destino é a fonte da qual flui a auto-elevação única da nação e a corrente interminável da inspiração divina que não secará enquanto o caminho do Povo estiver demarcado pelas leis de Deus. A vida do destino é uma vida dirigida, o resultado da direção consciente e do livre arbítrio.”

Que neste ano novamente nos encontremos unidos em comunidade, não apenas lembrando o que fomos, mas também o que podemos ser. Que possamos ter a capacidade de nos reconhecer como um elo na eterna corrente da tradição de nosso povo. Que sejamos capazes de nos comprometer com a construção de uma comunidade que talvez não vejamos, mas com a qual sonhamos para as próximas gerações. Queira Deus e que seja nossa vontade encontrar um equilíbrio, e que não estejamos unidos apenas por nosso passado, mas que escolhamos construir juntos nosso futuro, nosso destino.

 

Shabat Shalom,

Rabina Tati Schagas