“Moshé viu apenas uma vez o rosto divino
e esqueceu. Ele não queria ver o deserto
nem a Terra Prometida, apenas o Rosto Divino
Bateu na rocha de tanta saudade
subiu o Monte Sinai e desceu, quebrou as tábuas […], procurou no fogo e na fumaça,.. Só lembrava a ‘mão forte e o braço estendido’
e não o rosto, como quem quer ver o rosto da pessoa amada e não consegue…
Desenhou para si uma imagem do rosto divino, do arbusto em chamas inconsumíveis, e do rosto da filha do faraó que se inclinou sobre ele quando era bebe na cesta
e espalhou pelas 12 tribos
e pelo deserto todo, mas ninguém viu
ninguém reconheceu. E só nos seus últimos dias
no monte Nevó, viu e morreu
com o beijo do rosto divino”
Yehuda Amichay
Os rostos de nossos entes queridos ficam gravados na memória mais fiel e subjetiva e valiosa que temos: a do coração. Aquela que pode confundir os fatos e os cenários, mas não as verdades essenciais, os sentidos profundos, os afetos sinceros. Nesse sentido, é que esses rostos são divinos, possuem a luz do amor e do legado e uma faísca de eternidade.
Sentimos saudades deles ao experimentar seu vazio, mas justamente essa saudade e esse vazio são, ao mesmo tempo, sua presença, inconsumível. Onde formos procurar e evocar, acharemos eles. Sempre fiéis.
O Izcor, que significa a promessa imperativa da lembrança que se perpetua, nos proporciona essa memória vivente, eternizadora e transformadora. É vivente porque não morre enquanto nós vivemos com ela, se eterniza quando a transmitimos e se transforma conforme nós mudamos. O el malé rachamim convoca nossa empatia e nossa compaixão para lembrarmos dessa forma. Envolvendo nossa capacidade para o divino no humano.
Que possamos consegui-lo, dando uma pós vida a nossos queridos e projetando em nossas trajetórias pela história e pelo mundo a marca que de nossos rostos deixaremos.
Rabino Ruben Sternschein