Que é muito mais o que ignoramos do que sabemos se verifica hoje em todas as disciplinas:
As bolsas de valores mundiais o mostram na economia, Einstein o mostrou na física, a COVID o mostrou na medicina e nem falar da psicologia, da filosofia, da educação e das religiões cujo coração é justamente o infinito desconhecido do interior das pessoas, da existência e do pensamento, das emoções e das experiências.

Filósofos, cientistas e estudiosos de qualquer disciplina com verdadeira sabedoria sustentam humildemente, que nunca temos certeza absoluta de saber nem aquilo que pensamos que sabemos. Que também existe aquilo que não sabemos que sabemos, além do que sabemos que não sabemos e o infinito que nem sabemos que não sabemos.
Sobre nós, sobre o mundo, sobre o passado, sobre o futuro, sobre a natureza, sobre o cosmo, sobre o corpo, sobre a lógica e sobre a sem-razão.

Diante do mistério, do inexplicável e do incompreensível alguns podem simular que nada acontece, que tudo está sob controle, que o pouco que sei é a única e toda a verdade. Eles viverão uma ilusão que poderá explodir em qualquer momento. Outros poderão acreditar que é questão de tempo, que tarde ou cedo saberemos tudo.
Alguns dirão que o que não sabemos é irrelevante justamente por que nada temos a fazer com aquilo ao qual não temos acesso. Alguns buscarão ferramentas alternativas às humanas e corriqueiras para acessar o desconhecido como intuição, emoção, mística, revelação, fetiche, crença.
Outros ainda poderão desistir dizendo: “como não temos como saber nem tentemos saber”.
Alguns poderão sentir medo pela fadada instabilidade, outros podem sentir desespero e outros ainda paixão como a atração que sentimos por tudo o que é inatingível e ao mesmo tempo perceptível: o horizonte.

A parasha da semana começa com um evento revoltante e inexplicável: dois filhos de Aharão morrem repentinamente, queimados por um fogo especialmente maior ao qual eles mesmos dedicaram inusitadamente em um ritual.

Surgem direta e figuradamente diversas reações:
Moises diz a Aharão: “é o que Deus disse: ‘me santificarei dentro (ou entre) meus mais próximos’ ”.
Aharão cala.
São introduzidos na cena “do nada” e por única vez na bíblia, três personagens cujos nomes parecem revelar sua função: Misha-el ( quem interroga Deus), Tzefan-el ( o oculto de Deus) e Uzi-el ( a força de Deus)

A reação de Moises poderia indicar que existem outras dimensões e outras razões além do que percebemos. O mal pode ser bom, o bom pode ser mal. O imediato pode ter outras conotações mais tarde o que vemos aqui pode significar outra coisa ali.

A reação de Aharão é a introspecção, a humildade, talvez a revolta ou a desistência ou talvez a aceitação dolorosa.
Finalmente os nomes dos três personagens indicam o questionamento que supõe que haveria respostas, que devemos sempre buscar, que viver é procurar sentido, que o mistério então é justamente a força e o motor que nos impulsiona a estar aqui vivendo.

Talvez estar vivo significa se atrair e sentir gratidão pelo que gera indagação e ir atrás de respostas ainda que o movimento gere mais perguntas.
Ou justamente por isso.

 

Shabat shalom

Rabino Dr. Ruben Sternschein