Na parashá dessa semana, Terumá, a Torá nos fala sobre a doação absolutamente voluntária, de livre e espontânea vontade – “[contribuição] de toda pessoa cujo coração se voluntariar” (Ex 25:2). A terumá (doação/contribuição) é completamente diferente do maassêr (dízimo), que era obrigatório.
A terumá solicitada por Deus nesta parashá serve a um único propósito: a construção do Mishcán, o templo móvel que nos acompanhou em nossa peregrinação de quarenta anos pelo deserto.
A Divindade Criadora do universo, onipresente e onipotente, escolhia ser nômade para estar junto com Seu povo: “farão para mim um santuário para que Eu habite no meio deles” (Ex 25:8).
Obviamente não devemos pensar que Deus se tornou ausente do restante do universo durante aqueles quarenta anos. O que interessa aqui é o simbolismo trazido pelo texto: não somente o ser humano busca por Deus, indo a Seu encontro, como o próprio Criador Se aproxima do ser humano, para encontrá-lo.
E para que esse encontro possa ocorrer é necessária a vontade dos dois lados: a Divindade quer Se encontrar com Seu povo e Se conectar a ele. Mas o povo também precisa querer se encontrar com o Divino e estabelecer essa conexão.
Por isso a Torá estabelece que o Mishcán deveria ser construído com materiais doados de livre e espontânea vontade. Para que o Eterno possa verdadeiramente estar junto de Seu povo, o Mishcán não pode ser um projeto imposto sobre o ser humano. Ao contrário, ele deve ser fruto da livre e participativa contribuição de cada um.
Na continuação da parashá, o texto relata com detalhamento quase excessivo cada passo daquela obra, a ponto de o leitor ter a impressão de que a reconstrução daquele Mishcán pode ser realizada a qualquer momento.
Em outros leitores uma questão é despertada: qual a razão para que tantos detalhes figurem no texto? Que todos os detalhes tenham sido transmitidos aos construtores do Mishcán é perfeitamente aceitável e compreensível. Mas por que razão os mesmos detalhes precisam ser transmitidos a todos os “não-construtores” do povo, por gerações a fio? Qual o significado simbólico de tudo isso?
Ao chamar tanta atenção para cada pequeno ponto da construção, nossa parashá procura despertar em nós a simples percepção de que Deus também mora e pode ser encontrado nas pequenas coisas. E isso não é um mero detalhe.
Shabat shalom,
Moré Theo Hotz