Durante a semana de anucá nós acompanhamos o crescimento das luzes em nossas anukiót. Na primeira noite, com uma única vela sozinha em uma de suas extremidades, o restante do candelabro parece vazio e esteticamente desequilibrado, numa cena quase triste – embora seja época de alegria – a anukiá emana pouca luz.

A cada noite, no entanto, acrescentamos uma vela a mais ao lado da vela da noite anterior, e a luz vai aumentando, a anukiá vai se completando dia-a-dia, com suas diferentes cores, uma vela nova e diferente vai sendo incluída a cada noite.

Na oitava noite a anukiá completou seu caminho, não há mais espaços desocupados, todas as velas, de todas as cores, foram inclusas e uma forte luz e um calor intenso ilumina e aquece nossas casas – é verdade que no Brasil é época de calor, mas lá em Israel estamos em uma das épocas mais frias do ano e a luz e calor das anukiót trazem um sinal e uma mensagem.

O sinal é de que, mesmo no mais escuro e gelado inverno, nós ainda podemos e devemos fazer algo, tomar uma atitude, e lutar contra as trevas e o frio. A mensagem é de que nossa ação pode demorar a ter resultado, mas dali a pouco o inverno se dissipará, o céu retomará suas cores, o sol brilhará novamente em toda sua intensidade.

Nessas semanas nós estamos em plena leitura das histórias de Yossêf. Ele também vivenciou seu outono (fall) ao ser lançado em um poço vazio. Também vivenciou seu inverno de escuridão e frieza durante seus dois anos no cárcere.

Mais tarde, alçado a um alto cargo, vislumbra a esperança do fim de sua angústia, e pergunta sobre Yaacóv: “Israel ainda vive?” (Gn 43:27) – Será que a luz de meu pai, Israel, ainda brilhará sobre mim, como o sol do verão?

Séculos e séculos após Yossêf, a terra de Israel foi ameaçada com o fim do judaísmo e toda sua cultura. Os selêucidas impuseram a cultura helenista e aboliram a Lei Judaica na terra dos judeus, proibiram as práticas religiosas do nosso povo, buscando exterminar a tradição, a cultura e a História de Israel.

E assim se levantaram macabeus (Israel ainda vive!) e lutaram contra a opressão de seus inimigos, combateram em nome de seus direitos e de sua identidade, e garantiram que o judaísmo permanecesse vivo e não desaparecesse para sempre da face da terra.

Diz a assidút que, de tempos em tempos, todo ser humano enfrenta seus próprios invernos. Como povo também passamos por uma de nossas noites mais obscuras na História, mas não abandonamos nossa luta macabeia, e tornamos realidade aquilo que parecia apenas mais um sonho inocente de Yossêf (ou seria de Herzl) – Israel ainda vive! E viverá ainda mais e mais.

As batalhas e lutas dos macabeus continuam ainda hoje. Ansiosos pela Luz de uma anukiá plena, esperando pelo dia em que nossos Macabeus não mais precisarão lutar, almejando quando nossos cativos todos retornarão são e salvos a sua terra e seu lar… Em tempos trevosos de obscurantismo e frieza, é imperativo que passo a passo completemos nossa anukiá, aumentando a luz, dispersando, dissipando e vencendo a escuridão.

 

Shabat shalom veag haUrim samêa!

Rabino Theo Hotz