
Existem pessoas cujo foco são elas mesmas. Tudo que fazem afinal é para se enriquecer, para serem admiradas, para viverem vidas melhores, para crescer, para serem amadas, para aproveitar para serem felizes. Independentemente dos valores e das ideias, o foco é o que lhes acontece a elas próprias.
Existem pessoas cujo foco são os demais: como pensam e vivem, como se relacionam, o que gostam, o que dizem, o que veem delas ou em geral, o que outras pessoas precisam, como outras pessoas estão. Sejam elas próximas, queridas, ou até rivais ou inimigos. Ou público imaginário ou real.
Talvez todos às vezes sejamos de um modo ou de outro e tenhamos um foco ou outro.
Existe um terceiro tipo de pessoa: aquela que se foca em outros pelo impacto que isso traz para ela.
E finalmente, aquele que se foca em si pelo impacto que poderá contribuir nos demais.
A parashá da semana nos proporciona dois parágrafos para revisitar estas dinâmicas próprias e alheias.
No primeiro, a menorá é descrita como uma só peça com sete braços diferenciados que saem de um mesmo tronco, mas cada um ilumina com sua luz. Entretanto, a luz desses sete braços, diz o texto, ilumina e reflete (de volta) o rosto – interior da própria menora toda.
No segundo parágrafo, dois candidatos a profetas, auxiliares e momentâneos de Moisés, Eldad e Meidad, ao invés de fazer como os outros 70 que se apresentaram na tenda do Encontro Sagrado (ohel moed) e profetizaram apenas por um tempo, se mesclaram com o povo e profetizaram espontaneamente, segundo o midrash, sem fim, a partir do próprio vínculo fluido com as pessoas. O verbo diz inclusive que SE profetizaram em forma reflexiva, mitnabim.
Que possamos encontrar na menorá e na profecia inesgotável de Eldad e Meidad os melhores modelos para analisar nossa forma de ser e viver em relação a nós mesmos aos que estão à nossa volta e à dinâmica entre ambas as dimensões.
Shabat shalom
Rab. Dr. Ruben Sternschein