
Nem sempre as lideranças se mostraram arrogantes tentando achar culpados fora de si. Nem sempre os públicos esperavam lideranças perfeitas, deixando pouco espaço para acolher a humanidade delas e seus erros com altura e compaixão.
No Tanach, (Bíblia Hebraica) lideranças se mostram vulneráveis e seus erros são iluminados bem como seus arrependimentos. Até o próprio Deus erra, se arrepende e muda. Mostramos isso várias vezes, especialmente no curso “anti-heroísmo bíblico”, disponível na plataforma da Academia Judaica da CIP (academiajudaica.org).
Lideranças bíblicas até pedem que os demais rezem por elas.
A rainha Esther antes de tentar interferir pelos judeus ameaçados de extinção, pede ao povo que este reze e jejue por ela e daí deriva o jejum de Esther, praticado até hoje.
Deus pede que rezemos para que ele possa transformar seu rigor em misericórdia e compaixão dentro de si. Como se não pudesse fazê-lo sem a recrutação de nossa vontade:
“Deus disse ‘meus filhos rezem por mim (a mim) a fim de que possa transformar minha tendência ao rigor da justiça em uma tendência compassiva e misericordiosa’“ (bereshit rabá 44 a).
Na parashá da semana, que começa o final da liderança e da vida de Moisés, os comentaristas se surpreendem com a expressão “ Você está prestes a passar o rio em direção à terra de Israel” uma vez que Moisés não iria passar. Então explicam que Moisés mostrou sua vulnerabilidade sutilmente para que o povo se compadeça e reze para que ele sim entre na terra de Israel.
Nos nossos dias, no Brasil, nos EUA, na Europa, em Israel, os líderes se manifestam para reforçar sempre seus discursos e suas políticas. Inclusive quando forem mudá-la. Como se fossem infalíveis, estivessem sempre certos e pensassem que nenhum ouvinte aceitaria com compaixão que tenham errado.
Enquanto isso, as economias mantêm a pobreza e a fome e as políticas sustentam as guerras e as destruições.
Os horrores do terror devem ser combatidos com toda a força, assim como sua corrupção e assassinato de seu próprio povo, mas a humanidade não pode morrer no caminho dessa luta. A esperança tampouco.
Esta semana começamos o último livro da Torá, com a parashá de seu mesmo nome, Devarim, e com a sua leitura, anunciamos o 9 de Av, dia de recordação da destruição de Jerusalém, os massacres que acompanharam duas vezes a queima do Templo e o exílio dos poucos sobreviventes aos 2000 anos de diáspora, até que o sionismo devolveu seus descendentes à terra de seus ancestrais.
A tradição talmúdica conta que Deus pede a si mesmo que sua compaixão se sobreponha à sua justiça.
É tempo de rezar, para que o aspecto divino da humanidade se sobreponha a qualquer outra tendência, especialmente na alma dos humanos que lideram as políticas do planeta, e acabem de uma vez os sofrimentos dos sequestrados e as destruições das guerras.
Shabat shalom,
Rabino Dr. Ruben Sternschein