
Começamos um novo ano judaico em ritmo intenso: Rosh Hashaná, Iom Kipur e na próxima 2ª feira à noite começamos a festa de Sucot. Não há tempo de descanso; o calendário nos desafia a iniciar o ano refletindo e agindo com consciência.
Na Parashat Haazinu, Moshê eleva sua voz em forma de poesia, convocando céu e terra como testemunhas. O texto fala da diversidade da criação e da fidelidade divina em contraste com a fragilidade humana. Assim como a canção de Haazinu reconhece múltiplas vozes, de advertência, de promessa e de esperança, ela nos lembra que a vida judaica não é feita de uma só nota, mas de um coro plural. É nesse diálogo de diferenças que somos chamados a reconhecer a presença de Deus.
Uma das grandes questões que carrego nesse momento, no qual buscamos transformar nossos valores, nosso compromisso estabelecido diante de Deus nos últimos dias, em ação é o desafio de como conviver com pessoas que manifestam valores de maneira diferente da minha.
Eu posso viver minha preocupação com o outro oferecendo ajuda constantemente, enquanto outra pessoa, com valores de autonomia e autocuidado, pode agir de modo oposto. Ainda assim, ambos buscamos o bem.
É nesse ponto que o conceito de pluralismo se torna central. Pluralismo não significa apenas tolerar, mas valorizar múltiplas formas de viver a verdade. Porém, ele deve caminhar ao lado de dois outros pilares:
1) Integridade e fidelidade aos nossos próprios princípios, tanto individuais como comunitários.
2) A disposição de sermos vulneráveis o suficiente para reconhecermos nossa interdependência.
Sucot nos oferece uma metáfora poderosa. A Torá nos manda reunir quatro espécies diferentes, e o Midrash explica que cada uma representa um tipo de pessoa: há quem tenha Torá e boas ações, quem tenha apenas uma ou nenhuma delas. Isoladas, seriam incompletas. Unidas, tornam-se símbolo de um povo inteiro, diverso, mas conectado. É essa unidade na diferença que eleva a Presença Divina.
A cabana frágil da sucá também nos ensina. Ao sair de nossas casas seguras para habitar o temporário, percebemos que só construímos sentido juntos. Uma sucá de portas abertas nos convida a exercitar a convivência com a diversidade, a acolher e ser acolhidos, sem abrir mão daquilo que é essencial para nós, mas com flexibilidade para aprender com o outro.
Que possamos entrar em Sucot com coragem de viver o pluralismo, firmeza na integridade e abertura para a comunidade. Que nossas diferenças não sejam muros, mas pontes que nos conectam e nos ajudam a revelar o divino no encontro humano.
Shabat Shalom e Chag Sameach!
Rav Natan Freller