Esta semana, concluímos o Livro de Gênesis com a parashat Vaiechi, uma leitura rica em emoção e significado, e nos encontramos imersos nas bênçãos profundas e poéticas de Jacó para seus filhos e netos. Entre essas bênçãos, uma se destaca por sua beleza poética e significado duradouro: a bênção a Efraim e Menashé, que se tornou um modelo de como pais e mães abençoam seus filhos até hoje.
Em Bereshit 48:16, Jacó abençoa seus netos com estas palavras: “O anjo que me redimiu de todo mal — abençoe os meninos; e que eles se multipliquem e formem uma multidão na terra.”
A palavra veidgú — traduzida como “que eles se multipliquem” — está linguisticamente conectada à palavra hebraica para peixe, dag. Essa conexão abre a porta para ricas interpretações sobre a natureza das bênçãos, identidade e continuidade, que são profundamente relevantes para nós como indivíduos e como comunidade.
O Talmud (Berachot 20a), comenta sobre essa conexão e menciona as qualidades únicas dos peixes: eles vivem sob a água, invisíveis e, portanto, protegidos do “mau-olhado”, o ain hará. Os peixes, constantemente imersos em seu ambiente de sustentação da vida, simbolizam um fluxo natural e ininterrupto de bênçãos divinas. Rashi explica que a oração de Iaacov para Efraim e Menashé reflete um desejo de que os seus descendentes sejam tão abundantes quanto os peixes, florescendo de uma forma que seja prolífica, e ao mesmo tempo, protegida.
Outros sábios enfatizam a adaptabilidade e a resiliência dos peixes, observando como eles podem prosperar em ambientes diversos. Um povo que navegue pelos desafios como os peixes nadam por correntes e obstáculos com facilidade, que prosperem mesmo em circunstâncias desafiadoras, permanecendo firmes e resilientes, não importa onde a jornada da vida os leve.
A imagem dos peixes fornece uma metáfora poderosa para nós como indivíduos e como uma comunidade. Os peixes vivem em cardumes, representando um equilíbrio entre individualidade e pertencimento. Cada peixe se move livremente, mas eles são parte de um todo coletivo, encontrando força na unidade enquanto mantêm sua identidade única. Da mesma forma, a bênção de Iaacov para cada um de seus filhos, e dois netos, nos encoraja a celebrar nossa diversidade enquanto reconhecemos o poder da comunidade.
Em nossa comunidade, esse equilíbrio entre individualidade e responsabilidade coletiva é um chamado sagrado. Cada um de nós contribui com nossos dons, perspectivas e vozes únicos para o tecido de nossa vida compartilhada. Como peixes em um vasto oceano, somos parte de algo muito maior do que nós mesmos, mas somos cada um insubstituivelmente distinto.
Assim, inspirados pela oração de Iaacov, quero compartilhar uma benção com toda nossa comunidade e a cada um e cada uma de vocês: Que vocês, como Efraim e Menashé, possam prosperar abundantemente. Que vocês encontrem proteção e força ao nadar pelos desafios da vida. Que vocês permaneçam conectados à fonte da vida, enraizados em nossas tradições e valores compartilhados. E que vocês sempre se sintam valorizados pela luz única que trazem para nossa comunidade sagrada.
Que possamos, juntos, continuar a aprender uns com os outros e abençoar uns aos outros, assim como Iaacov abençoou seus filhos e netos, cada um de acordo com sua própria natureza.
Que este Shabat traga paz, renovação e alegria para seus lares, e que vocês possam seguir em frente na semana que se inicia carregando o conhecimento de que são profundamente abençoados.
“Chazak, chazak, venitchazek!” (Força, força, e que sejamos fortalecidos!) Assim termina o livro de Bereshit. Que essa força nos leve adiante enquanto continuamos nossa jornada pela Torá, pela vida e pelas águas de nossa existência compartilhada.
Shabat Shalom,
Rav Natan Freller