Quando pensamos em sonhos na Torá, dificilmente pensamos em Sefer Devarim. Muitos sonhos famosos aparecem em livros anteriores da Torá.

Na Parashat Ki Tavô podemos lembrar da importância de sonhar, mas neste caso não estou falando dos sonhos que temos dormindo. Falo dos outros, dos sonhos que nos fazem acordar mais vivos. Nossos sonhos, aqueles que imaginamos, desejamos, planejamos para nossas vidas, nossas famílias e o mundo em que vivemos. Nenhum sonho é pequeno. Os sonhos nos dão energia, nos motivam e como muitas vezes nossos sonhos são em conjunto com outras pessoas, tudo isso se expande, e a energia se multiplica.

O mês de Elul, último mês do calendário hebraico, tem algo sobre sonhar também. Parte do processo de teshuvá é nos imaginar no dia depois de Kipur. Como seremos? Que aprendizados teremos adotado? Quais partes de nós mesmos teremos conquistado? Quais novas atitudes adotaremos e quais deixaremos ir? 

É importante não esquecer que a teshuvá, a reflexão, nos avaliar e sonhar em sermos pessoas melhores é um processo enriquecedor em si mesmo, para além dos resultados.

A rabina Dalia Marx propõe ouvir a parashá como aqueles homens e mulheres, geração do deserto, em que tantas coisas passaram. O povo está em pé, frente a Moshé escutando o que acontecerá, quem eles e elas poderão ser, o quê terão, o quê verão quando estejam em suas terras, quando chegarem a ver com seus próprios olhos a promessa de chegar ao destino.

Moshé descreve para que eles consigam imaginar, sentirem como se aquilo já fosse real, que consigam se ver “do outro lado”. 

Assim como a geração que saiu de Mitsraim acreditou em dar o passo para cruzar o mar, esta geração tem que acreditar que será parte, não só da terra, mas também da promessa, da construção, do compromisso, viver apoiados em valores, lembrar de onde viemos e qual foi o caminho recorrido.

Não é fácil imaginar o que parece bem difícil de conseguir, não é fácil manter a esperança de estarmos andando juntos e nos reconhecermos como companheiros também em nossos sonhos. É um grande desafio, mas é importante tentar. “Kol maase, b’machshava techila”, toda ação começa num pensamento.

Quão importante é ler esta parashá chegando ao fim do um ciclo. Nos libertamos do que precisamos, enquanto atravessamos nossos desertos e lembramos o que foi vivido neste ano. 

Que sejamos capazes de fazer um processo de teshuvá significativo e verdadeiro. Para além dos arrependimentos, dos perdões, das desculpas e das dores, que esteja inspirado em sonhos, em confiança, no desejo de nos converter em quem podemos e queremos ser. Que entremos juntos a nossas terras prometidas e nelas, aprendamos a sonhar e criar os dias que virão juntos e em paz.

 

Shabat shalom,

Rabina Tamara Schagas