Quando eu era criança, minha mãe me disse que quando um de nós saía de casa sozinho, enfrentava uma situação difícil ou sofria com alguma pessoa que nos incomodava, ela nos imaginava dentro de um círculo de luz que nos protegia. Essa conversa, essa imagem, permaneceu em mim e, ao longo dos anos, eu a entendi de forma diferente, ressignificando-a. Quando criança, pensava que essa luz era algo externo a mim, como uma bolha que me impedia de ser atacada, quase como um super poder que minha mãe tinha de cuidar de mim. Hoje entendo como uma luz minha, uma energia que faz parte de mim, que traz brilho, amor, empatia e pode-se estender e impactar aqueles com quem encontro e compartilho a vida. Essa luz sou eu, cada um de nós tem a sua.

A tradição do nosso povo nos ensina que nossa alma é uma faísca divina e que somos muito mais do que a presença física que distinguimos com nossos olhos. Está escrito no livro de Provérbios: “O sopro da vida (neshamá – alma) do ser humano é a lâmpada (ner – vela) de Ad-nai; Revelando todas as suas partes mais íntimas” (20:27). Nossas almas são parte dessa luz divina, elas nos dão vida.

A parashá desta semana nos conta sobre a menorá, o candelabro de sete velas que fazia parte dos elementos de rituais do mishkan. A parashá começa dizendo o que Moshé tem que pedir ao seu irmão, Arão, para que faça com o candelabro: “Fale a Aharon e lhe diga: Quando você montar (behaalotchá — quando você se eleve) as lâmpadas, faça com que as sete lâmpadas iluminem a frente do candelabro” (8:2). A tradução deste verso é um desafio. Na tradução de Plaut, eles escolheram o verbo “montar”, mas uma tradução literal diria “se elevar”. Por que nossa Torá fala de se elevar e não de acender as lâmpadas? Existe uma conexão entre a ascensão e o espírito de iluminação? É possível pensar no candelabro como uma metáfora para nós mesmos?

Essa é a leitura que convido vocês a fazer este ano, para pensar em cada um de nós e em nossos vizinhos como um candelabro cujo objetivo é iluminar e, para iluminar, devemos nos elevar. O castiçal de sete velas nos lembra da completude, do físico e do divino, da ação dos seres humanos como parceiros de Deus na criação do nosso mundo; o poder de cada um de nós não só para brilhar, mas para transmitir essa luz, essa energia, os valores e as tradições.

Marianne Williamson, escritora americana, escreveu:

“Nosso medo mais profundo não é o de sermos inadequados. Nosso maior medo não é saber que somos poderosos, além do que podemos imaginar. É a nossa luz, não a nossa escuridão, o que mais nos apavora. Não nos perguntamos “quem sou eu para ser brilhante, maravilhoso, talentoso e fabuloso?”. Na realidade, quem é você para não ser? Você é filho de Deus. Você se fazer de pequeno não ajuda o mundo. Não há nenhuma bondade em você se diminuir, recuar para que os outros não se sintam inseguros ao seu redor. Todos nós fomos feitos para brilhar, como as crianças brilham. Estamos nascendo para manifestar a glória de Deus que está dentro de nós. Não está apenas em um de nós, está em todos nós. E conforme permitimos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos a outras pessoas permissão para fazer o mesmo. E conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, automaticamente, liberta os outros.”

Que, neste Shabat, ao acender as velas, reflitamos sobre nossa própria luz. Que sejamos capazes de reconhecer nosso brilho, saber que ele contagia e ascende e que não precisa entorpecer a luz dos outros. Que juntos iluminemos nosso mundo e tragamos paz.

 

Shabat Shalom,

Rabina Tati Schagas