O que acontece quando nos reunimos?

Juntos, podemos aprender uns com os outros; podemos rir, chorar e nos consolar reciprocamente. Podemos construir, ensinar e transformar. Há algo poderoso na união: somamos esforços, subtraímos dificuldades, multiplicamos forças e dividimos conquistas. Talvez seja por isso que, ao preparar o povo para receber a Torá e construir o Mishkán, “Moisés convocou (congregou) toda a comunidade israelita” [Shemot 35:1].

O verbo Vaiakhel, usado nesse versículo, é justamente o que dá nome à parashá desta semana. Sua raiz também forma as palavras ‘kahal’ e ‘kehilá’ – termos usados para se referir à congregação ou à comunidade. Moisés reuniu o povo para um propósito bem definido: construir o centro espiritual e comunitário daquele coletivo.

Mas estar junto com um mesmo propósito, por si só, não garante um resultado positivo. O verbo ‘vaikahel’ – que compartilha com ‘vaiakhel’ a mesma raiz – aparece em momento anterior da Torá, quando os israelitas se reuniram para construir o bezerro de ouro [Shemot 32:1]. Aqui, o coletivo se uniu não para construir algo agregador, mas para seguir um caminho de confusão e dispersão.

A questão, então, não é apenas se estamos congregados, mas porque e para quê nos reunimos. O propósito do coletivo é o que determina seu impacto. O que queremos construir juntos?

Se congregar é um verbo que se conjuga no plural, quem é o sujeito dessa ação? Quem é o “nós” da nossa congregação?

A mesma parashá que instrui os construtores do Mishkán (o local onde o povo se reuniria para ser comunidade) é também a que nos ensina quem deve fazer parte dessa construção:

כׇּל־אִישׁ וְאִשָּׁה אֲשֶׁר נָדַב לִבָּם

“…todo homem e mulher cujos corações se mobilizam.” [Shemot 35:29]

Esta é a afirmação mais igualitária de toda a Torá – uma declaração que deveria estar escrita na porta de cada sinagoga, cada kahal, cada kehilá.

Reunir-se não é apenas estar junto. É edificar – e em um sentido duplo: quem se reúne se soma para construir algo maior que si mesmo. E a Torá deixa claro quem é chamado a construir: homens e mulheres, todos aqueles cujo coração pulsa pelo coletivo.

Ainda no mês da mulher, este versículo nos lembra que a conversa sobre igualdade não é apenas sobre mulheres – é sobre homens e mulheres juntos, edificando comunidade.

 

Shabat Shalom!

Rabina Kelita Cohen

Academia Judaica da CIP