Nesta semana nós lemos duas parashiót juntas: Tazría e Metsorá, que lidam com várias questões de pureza e impureza ritual, quando homens e mulheres ficavam impossibilitados de atuar no campo religioso.
O texto repete diversas vezes: “e se banharão na água, e se purificarão”. Em Lv 15:13, o texto reitera: “banhará sua carne nas águas vivas e será purificado”. Mas apesar de a purificação ritual vir através da água, esta impureza ritual não era uma sujeira. A Torá aponta que deve ser purificado todo aquele que teve algum contato com a morte, direta ou indiretamente.
Deste modo, aquele que havia tocado em um cadáver estaria impossibilitado do ofício religioso até sua purificação. Também aquele que tivesse tido uma polução noturna estaria impuro, pois seu potencial gerador de vida se transformou em “não-vida”. Também se entedia como impureza o contato com quaisquer sangramentos ou secreções, vistos como “vida derramada” / “vida não-realizada”.
O texto bíblico acredita que a experiência religiosa deve ser viva e que a vida deve emanar desta experiência. Ao utilizar o termo “águas vivas”, a Torá mostra que não se trata de um simples banho, esta é uma imersão na fonte da vida por excelência, um contato com o fluído mais precioso da terra. Tal contato nos desperta subitamente a consciência para o viver, revigora-nos e nos eleva espiritualmente, purificando-nos.
A palavra micvê é rara na Torá, e não aparece neste trecho ao se referir às ‘águas vivas’. Encontramos esta palavra, porém, quando o texto explica que serão puras “as fontes, as cisternas e os lugares de ajuntamento de água (micvê máim)”.
A micvê não é ligada somente à purificação devido ao contato com a “não-vida”. A imersão nesta agradável piscina ritual é obrigatória também em processos de adoção do judaísmo, por exemplo, e altamente recomendável sempre que quisermos acrescentar mais vida em nosso cotidiano, como às vésperas do casamento, do bat ou bar-mitsvá.
Sempre que quisermos marcar um momento especial em nossas vidas, prepararmo-nos para uma nova etapa profissional, entrar “com o pé direito” no ano novo, refletir sobre nós mesmos antes do Kipur, ou antes de cada chag ou shabat, a micvê estará lá, com suas águas vivas, aguardando cada um de nós.
Shabat shalom,
Rabino Theo Hotz