A cena central desta parashá é o encontro entre Iaacov e uma figura misteriosa com quem ele luta até o amanhecer, alguns dizem ser uma pessoa, enquanto outros afirmam ser anjos. Para algumas pessoas é uma luta consigo mesmo, e outros ainda acreditam ser o próprio Deus.
Iaacov atravessa o rio, envia tudo o que tem para o outro lado, e fica sozinho. É nesse momento de absoluta vulnerabilidade que a luta acontece.
Segundo o próprio texto, no fim, Iaacov vence essa figura, e então, recebe um novo nome: Israel, pois é “aquele que luta com seres humanos e com Deus, e prevalece”. Mas nossas fontes nos provocam a lembram algo profundo: esse novo nome não apaga o antigo, mais adiante, o próprio Deus reafirma o nome Israel, porém não retira o nome Iaacov. O Midrash explica que os dois nomes coexistem, Israel é como uma camada adicional de significado.
Assim é também a nossa própria identidade, nunca é simples, linear ou estática. Somos, ao mesmo tempo, o Iaacov que tropeça, teme e hesita; e o Israel que enfrenta, cresce e segue em frente apesar das feridas.
Essa tensão entre Iaacov e Israel ecoa até os dias de hoje. Somos confrontados com nossa vulnerabilidade, como Iaacov na escuridão da margem do rio. E, ao mesmo tempo, o mundo observa a resiliência de um povo que insiste em construir, educar, rezar, reconstruir e manter esperança, um verdadeiro “Israel” que não permite que a luta acabe até extrair dela uma bênção.
Talvez a mensagem da parashá, especialmente para tempos como os nossos, seja esta: não existe Israel sem Iaacov. É na noite, no tropeço e na dúvida que nasce a força de continuar.
Que possamos carregar em nós ambos os nomes, Iaacov e Israel, ao longo de cada jornada transformadora de nossas vidas, seja na escuridão da dor ou na luz de novos horizontes.
Shabat Shalom,
Rav Natan Freller
