Depois de muitos eventos extremamente estressantes na Parashá desta semana, Moshé brilha, literalmente.
Ao descer pela segunda vez do Monte Sinai, com as segundas Tábuas da Lei, depois do bezerro de ouro e de ter visto as costas de Deus (já que não se pode ver a face de Deus e sobreviver), Moshé brilha. Seu rosto, depois de suas próprias mãos terem participado da nova escritura das Tábuas, emite luz.
Uma luz especial e intensa que assustou o povo. Esse brilho se reforçaria quando Moshé tivesse um contato com Deus e passasse sua mensagem ao povo. Mas para o dia a dia, colocou um véu, como se fosse uma “máscara.”
Nessa semana em que celebramos Purim, falamos muito sobre máscaras. Elas podem ter diferentes razões. Realmente somos diferentes em qualquer lugar que estejamos: diferentes como filhos, amigos e profissionais. Muitas vezes as máscaras servem para esconder algo que não queremos que seja público, ou passar uma impressão diferente ao outro do que realmente pensamos, sentimos ou fazemos, seja por medo, vergonha ou insegurança.
Moshé é considerado um homem extremamente humilde, seu véu serve para evitar os olhares de todos quando não era necessário. Ele queria que prestassem atenção quando trazia uma mensagem divina, não quando tentava ter uma vida “normal”.
A discrição de uma pessoa nos momentos corretos também mostra caráter. Em uma época em que todos os mínimos detalhes de nossas vidas podem ser publicados em redes sociais, aprender a colocarmos o véu sobre nossos rostos, sobre nossas ações e pensamentos íntimos e da esfera privada, parece um desafio. Por que será que existe a necessidade de transformar os aspectos particulares de alguém em conhecimento público? O mistério do que acontece no íntimo de cada um é o que nos torna interessantes e faz com que as relações sejam marcantes. No momento em que todos sabem tudo, perdemos algo importante que impulsiona os relacionamentos pessoais.
A máscara que Moshé usa é diferente da máscara de Purim. Na festa, as máscaras servem para nos lembrar de que temos várias facetas e que algumas preferimos ocultar, assim como a Rainha Ester ocultou sua identidade judaica. A de Moshé nos relembra de que existem elementos de nossas vidas que não devem ser expostos. Não por medo ou vergonha, mas pelo fato de ser algo pessoal.
Temos que aprender que apesar de parecer que tudo da vida é compartilhado, partes devem continuar apenas para o indivíduo. Moshé tem muitíssima dificuldade de se separar de seu papel como líder. Muitas vezes as funções que assumimos se sobrepõe a nós mesmos, portanto o grande desafio é lembrarmos que existimos além de títulos, funções e seguidores. Temos que ter o direito de apenas “sermos nós mesmos” e não estarmos sempre “sendo em relação ao outro”.
Que nós saibamos diferenciar uma máscara da outra e tenhamos a plena consciência de quando empregá-las. Mas tenhamos sempre a mão a máscara da privacidade para que algo de nossa vida interna e íntima permaneça assim, e a vida possa continuar interessante.