Em hebraico, a palavra mezuzá/mezuzót significa batente/batentes das portas. Na Torá, a referência mais famosa a essa palavra está no texto do Shemá Israel: “uchtavtám al mezuzót beitêcha uvishearêcha”, quando somos instruídos a escrever as palavras do shemá sobre os batentes das portas de nossas casas.

Por metonímia, passamos a chamar de mezuzá também o pergaminho com o texto do shemá, que colocamos nas portas e, em muitos casos, também chamamos de mezuzá o estojo que protege o pergaminho.

Mas outra passagem da Torá também menciona os batentes. Entre as várias leituras realizadas diariamente durante os dias de Pêssach, nós lemos o soturno relato da noite da morte dos primogênitos do Egito.

Segundo o texto, a Divindade instruiu que cada hebreu tomasse um cordeiro, o sacrificasse, e marcasse os batentes das casas hebreias com o sangue deste animal. A Torá conta que nesta noite Deus “passou sobre” (“passách”) as casas hebreias – daí o nome da Festa, Pêssach – salvando os israelitas do Anjo Exterminador.

Esta passagem leva muitas pessoas a associarem o sinal nas portas aos nossos pergaminhos de mezuzá, induzindo muitos a acreditarem que, ao colocarmos mezuzót em nossas portas, nós evitamos as más energias, livramo-nos de doenças e até mesmo afastamos a morte.

No entanto, não podemos confundir as duas coisas. O pergaminho da mezuzá e seu estojo NÃO SÃO amuletos, e nem devem ser tratados como tal. Colocar a mezuzá em nossas portas não é um ato mágico – do contrário, ela acabaria sendo como os ídolos egípcios que nós deixamos para trás.

Nós colocamos as mezuzót em nossas portas para que nos lembremos de que nossas casas devem ser lares constantemente envolvidos com os valores expressos na Torá e preconizados pelo judaísmo, para que sempre recordemos que devemos ser individual e coletivamente comprometidos com os ideais divinos representados pelo Shemá Israel – nossa profissão de fé.

Que nesse Pêssach nós possamos nos libertar da escravidão do esvaziamento dos significados dos nossos rituais, que nos livremos da servidão a atos mágicos e gestos “miraculosos”, e abracemos a liberdade de professar a nossa fé, viver segundo nossos valores milenares, dentro e fora de nossas casas (“beshivtechá beveitêcha uvelechtechá vadérech”), como o Shemá Israel e a mezuzá nos convida a fazer.

Shabat shalom, moadím lessimchá, e chag Pêssach samêach!

 

Moré Theo Hotz