O tema da construção do mishcán, trazido nas parashiót de Terumá e Tetsavê, retorna nas duas últimas parashiót do livro de Shemót (Vayak’hêl e Pecudêi). Os textos dessas quatro parashiót são tão parecidos entre si, que até parece que nada havia sido falado até agora sobre o assunto, tamanhos os detalhes.

Contudo, há diferenças. O texto agora não conta somente sobre a construção, mas também relata a finalização de todo o trabalho, trazendo a prestação de contas de Moshé, demonstrando quanto foi recebido e quanto foi utilizado. Lisura e transparência que saltam aos olhos.

Em mais uma passagem a Torá descreve novamente o ḥóshen, o peitoral usado pelo sacerdote durante o serviço religioso no Templo. Conta a Torá que o peitoral era coberto pelo efód, decorado com doze pedras preciosas cada qual representando uma das tribos de Israel.

Muito tempo depois do mishcán, com a unificação das tribos em um único país (chamado Reino de Israel), a sociedade tribal chega ao fim, transformando-nos em um só povo, misturado, não mais dividido em 12 partes.

Mesmo assim, os sacerdotes continuaram a vestir o peitoral coberto pelo efód, com suas doze diferentes pedras, que passaram a representar não mais cada tribo, mas sim cada pessoa, na sua individualidade e diversidade.

Assim como as pedras preciosas do efód, cada um de nós é como uma joia única. Cada um de nós tem seu brilho específico, sua cor própria, que reluz e reflete a diversidade de ideias no judaísmo, a pluralidade dos debates, as diferentes opiniões pessoais, comunitárias, ou de origem étnico-geográficas, além de posições políticas, religiosas ou não-religiosas diversas.

Mas uma joia só brilha quando reflete a luz que incide sobre ela. Em tempos de trevas e obscurantismo, é preciso lutar contra a escuridão da intolerância, para evitar que nossa luz se esvaia. Assim como Moshé, cabe a nós sermos transparentes e retos, para que, ao acendermos a luz da nossa menorá interna, como na parashá Pecudêi (Ex 40:24-27), espantemos as trevas da ignorância, e façamos brilhar o nosso inegável pluralismo e diversidade, representados pelo efód sacerdotal, que são nossa força, não nossa fraqueza.

Que seja ouvida e atendida a nossa prece matinal que pede todos os dias que uma nova luz brilhe sobre Tsión, e que sejamos todos merecedores dessa luz, e como receptores desse brilho, possamos refletir e espalhar tal luz. Que a luz ancestral do judaísmo seja refletida hoje, de maneira renovada, através das nossas diferentes cores e de nossos brilhos específicos e individuais, e que tenhamos o mérito de ver essa mesma luz refletida e transformada em nossos filhos, netos e bisnetos, e replicada para muito além, para que haja luz no mundo inteiro, para toda a humanidade.

 

Shabat shalom,

Moré Theo Hotz