No dia 26/10, foi realizado o ato “Memória, Resiliência e Esperança”, ato feito para homenagear a memória de todas as vítimas desde os ataques do dia 7 de outubro. Foi um lindo ato, feito para a toda a comunidade CIP, e principalmente organizado pelos jovens de nossas tnuot.

O ato se iniciou com um tekes (cerimônia), que foi composto pelos discursos de nossa presidente Laura Feldman, Rabino Theo, e os próprios madrichim das tnuot, e é possível conferir os discursos completos clicando aqui. Junto disso, houve também o acendimento de 3 velas, que foram acendidas para iluminar as palavras que dão nome ao evento: memória, resiliência e esperança. As velas foram acesas pelos jovens das tnuot, pela CONIB, e pela FISESP. Nos próximos parágrafos, serão ressaltadas partes importantes e que nos levam a profundas reflexões dos discursos do ato.

“Não é fácil falar sobre essa memória, pois ainda vivemos o 7 de outubro. Reféns continuam cativos, soldados seguem em combate, e a cada dia mais pessoas são deslocadas. Vítimas de uma guerra que traz dores e traumas dos dois lados. A sociedade israelense mudou, o povo palestino também, e nós, judeus na diáspora, também não somos mais os mesmos. (…) O judaísmo não vive apenas nas páginas da história, mas nas ações e valores que transmitimos e praticamos diariamente. (…) A memória é o fio que conecta as gerações, ela é a base moral e espiritual da vida judaica. (…) Quando você pensa no 7 de outubro, qual notícia mais marcou você? (…) Por isso, não podemos nos deixar enganar por flashes de tragédias ou por clipes fora de contexto nas mídias sociais, que moldam a opinião que nos relacionamos, especialmente nós, judeus, e vocês, jovens líderes da nossa comunidade. (…) Sim, nós sentimos o peso da tragédia, mas precisamos reafirmar sem medo, e sem vergonha, o nosso sionismo. O sionismo não é sobre destruir o inimigo, mas sim sobre reconhecer a nossa terra ancestral, e construir com um legado que nos orgulhamos, um futuro de paz e segurança. (…) Como diz Amós Oz, em “Como Curar Um Fanático”, a paz não é amizade, é um compromisso. Que possamos ser comprometidos com a humanidade e com a paz.”, disse a presidente da CIP, Laura Feldman, em seu discurso de abertura.

“Como vencer isso depois, como continuar vivendo plenamente depois daquilo? Essa semana, pensando sobre o que eu falaria, me vinha a imagem o tempo todo, da Shani Louk, que talvez tenha viralizado por diversos motivos. (…) Todo aquele potencial de vida, ceifado no meio de um festival de música, pessoas que estavam dançando, e de repente, não estavam dançando mais… Na noite anterior, a gente tinha dançado. Tinha dançado com a Torá. A pergunta que eu me fazia era: a gente vai conseguir dançar de novo? (…) A verdade é que a gente precisa dançar de novo, porque o judaísmo foi feito na sua história, falava a Laura sobre memória, e tocava no assunto da reconstrução constante, o judaísmo é a história da reconstrução constante de um povo. (…) Apesar de tudo, na festa de Simchat Torá, nós estivemos aqui nessa sinagoga, e pudemos dançar de novo, sem deixar de lembrar a todo momento, daqueles que caíram e que nunca mais dançarão, mas em cuja memória nós, temos a obrigação moral, de continuar dançando, de continuar vivendo. Na nossa vida, nós vamos honrar a vida deles, na nossa dança, nós vamos dançar a dança deles, porque do contrário, a gente terá perdido. Do contrário, eles terão ganhado. Do contrário, a gente não vai se reconstruir, e aí é negar a nossa história, porque a nossa história é de reconstrução. Saibamos nos reconstruir e dançar novamente.”, disse o Rabino Theo de nossa congregação, em seu emocionante discurso.

“Fomos com o intuito de falar menos, escutar mais, e assim, buscarmos mais respostas. O que nos surpreendeu, foi que diferente do imaginado, saímos com mais dúvidas, com muitos questionamentos controversos, com mais receios, e com muito mais cautela. (…) Sabemos que devemos falar sobre esperança hoje, mas não foi isso que sentimos desde que fomos para a viagem. Com imagens fortes, impossíveis de serem esquecidas, voltamos com uma questão que ecoa: qual é o nosso papel, como jovens educadores aqui no Brasil, estando a milhares de quilômetros de distância da guerra? Durante meses, essa pergunta permaneceu em nossas mentes, nos desafiando a buscar uma resposta. Aos poucos, compreendemos que o único caminho viável para nós, enquanto líderes da comunidade judaica, é a educação pela paz, e é nessa esperança que nos apoiamos. Pensar em um futuro diferente, vivendo diante desse cenário de violência, requer muita resiliência. Como madrichim, vemos a educação judaico sionista como uma ferramente de nos aproximarmos desse futuro, reforçando nosso compromisso com a construção de uma Israel mais coerente com o que acreditamos. Prezando pela paz, nos opomos à guerra, entendendo a necessidade de um cessar-fogo imediato, para que os reféns voltem em segurança, e que os abrigados do norte e do sul retornem às suas casas e possam seguir suas vidas. (…) Manter a esperança diante desse cenário, não é um caminho simples. Estamos imersos em uma cultura global, permeada pela intolerância e pelo extremismo, presente em ambos os lados desde o início do conflito. A guerra mata a empatia, distancia o outro, e nos fecha para o diferente. Como ouvimos em uma conversa com o João Miragaya, historiador e educador brasileiro e israelense: a guerra só torna as pessoas mais extremistas. É nossa responsabilidade defender a coexistência, prezando pelo contato com o outro, e pela riqueza de poder aprender com o diferente. Educamos a partir de valores de diversidade, respeito e empatia. Assim, nosso papel se torna cada vez mais crucial. (…) As tnuot estão trabalhando incansavelmente para construir espaços seguros, nos quais seja possível dialogar, questionar, observar de diferentes perspectivas, e quebrar ciclos violentos de discursos de ódio que afetam inúmeras crianças e jovens. (…) Que juntos, possamos dialogar e trabalhar com o objetivo principal de alcançar a paz em Israel, no oriente médio, e no mundo. Que mantenhamos viva a memória de todas as vítimas dessa guerra, e que os reféns voltem com vida e segurança.”, relataram os jovens das tnuot, mencionando a viagem que fizeram em julho para Israel, e a situação que estão vivendo na comunidade. 

Após o tekes, todos os presentes podiam escolher entre três diferentes rodas de conversa: uma focada em artes, outra focada em educação, e mais uma focada em dilemas da sociedade israelense, e tudo isso no contexto pós 7 de outubro. E depois desse momento de reflexão, como último acontecimento do evento, foi realizado um painel com Daniel Douek e Rav Natan, mediado pelas madrichot Beatriz Rubinsztain, da Avanhandava, e Marcela Quiroga, da Colônia da CIP. O tema do painel era “O dia de amanhã (Depois da guerra)”, onde conversavam sobre como estão as realidades pós 7 de outubro, tanto de Israel, quanto da diáspora.

Aqui se traz também o relato de uma das jovens presentes no evento: “A abertura já foi bem impactante e trouxe seriedade para o ato, mostrando que o tema tratado era importante de ser falado. O acendimento das velas também trouxe significado para aquilo que estava sendo abordado, pois as palavras “memória, resiliência e esperança”, realmente guiaram o evento, trazendo um olhar mais esperançoso tanto para Israel, quanto para a diáspora. Depois, as rodas de conversa também estavam todas muito interessantes. Estive no de arte, e nessa roda falamos sobre o papel da arte durante a guerra, o que a arte é capaz de produzir na sociedade, como a arte tem um papel de expor aquilo que sentimos, principalmente nesse momento difícil. As interpretações e visões foram trocas bem especiais para esse momento, e pudemos ver como todos estavam se sentindo diante de toda a situação atual. Por último, a palestra do Rav Natan e do Daniel Douek retratou a guerra e a sociedade israelense de uma forma diferente. Deixou claro o quanto a guerra reflete no Brasil, e mesmo depois de um ano, o quanto ela causou e ainda causa reflexos na minha vida e na sociedade. Existe essa falta de esperança, mas que a juventude tenta recuperar, com esse olhar crítico, trazendo informações que podem agregar e trazer uma sociedade mais igualitária e justa tanto para nós da diáspora, quanto para Israel.”, disse Anne, madrichá da Chazit.

A comunidade CIP agradece aos jovens por proporcionar um momento tão significativo e único para nossa congregação. Acreditamos que nossa comunidade só tem essência, se tiver toque de juventude. Nossos movimentos são um grande exemplo de liderança, dedicação, e educação judaica hoje.

Fiquem atentos ao Instagram da Juventude e das tnuot (@juventudecip, @avatnua, @chazithanoarsp, @coloniadacip) para saber mais.