O individual e o coletivo nas rezas comunitárias
No começo da leitura de Acharei Mot, a parashádesta semana, Aharon recebe instruções sobreum ritual que envolve oferecer um sacrifício porsuas próprias transgressões e trazer dois bodesem nome da comunidade de Israel: um delesserá oferecido em sacrifício a Deus e o outro seráenviado ao deserto, para Azazel. É com relação aeste segundo bode que foi cunhada a expressão“bode expiatório.”Em meio a este enigmático ritual, o texto instruique “quando [Aharon] vier expiar pelo sagrado,nenhuma pessoa ficará na Tenda do Encontroaté que ele saia. Ele deve buscar a expiação parasi mesmo e para a sua família e para o Povo deIsrael.” (Lev. 16:17) Ao explicar esta passagemem sua obra Torei Zahav (1819), o rabinoBiniamin de Zelazitz escreveu: “nós sabemosque antes de rezar, devemos nos despir dosnossos corpos. Seu pensamento deve buscar aexaltação de Deus como se você estivesse nosmundos superiores, rodeado de anjos ao invésde pessoas.”Que desafio! Nas nossas corridas rotinas, já sãopoucos aqueles que conseguem se organizarpara ter uma prática cotidiana de rezas. Atradição judaica determina que algumas destaspreces, como por exemplo o Kadish, devem serditas apenas se houver uma comunidade depelo menos 10 pessoas reunidas para a reza e,portanto, buscamos rezar com um grupo. Quecomplexo, então, conseguir abstrair do grupoque nos rodeia para tentarmos atingir o nível dereflexão e conexão consigo próprio e com Deusque nos possibilite verdadeira comunhão com oDivino!Há, aqui, dois valores em tensão: a necessidade decomunidade e a busca pela introspecção – ambosobjetivos explícitos de nossa experiência judaicada reza em comunidade. O que podemos fazer, deforma conjunta, para facilitar o processo individualde concentração e busca pelo Divino? Que papelcada um de nós deve ter para que, como escreveuo rabino Biniamin de Zelazitz, possamos sentirque estamos nos mundos superiores rodeadospor anjos? Para que nosso apoio mútuo sejapresente e efetivo mas não sirva de distração nomomento da reza, inviabilizando seu mais sinceropropósito? Questões sem respostas únicas ouóbvias, com as quais cada um de nós deve seencontrar novamente a cada serviço religioso.Que em todos os serviços deste shabat,consigamos atingir rezas vivas, presentese transformadoras, com kavaná (intenção),investimento pessoal e apoio comunitário
Shabat Shalom
rabino Rogério Cukierman