“Estou acordada? Estou preparada? Estás ouvindo minha reza? Pode ouvir minha voz?  Pode me entender? Estou acordada? Estou preparada?” 

Noah Aronson escreveu esta introdução para a leitura do Shemá e suas bênçãos, muitas vezes cantada pelos jovens quando conduzem as tefilot. Antes de chamar a kehilá a abençoar o nome de Deus, antes de abençoar o criador do tempo que ordena o passar da noite e renova a criação cada manhã, antes de reconhecer o eterno e grande amor que Deus tem pelo povo de Israel e proclamar Sua Unicidade, nos perguntar se estamos realmente acordados.

Neste Shabat começa a festividade de Sucot e lemos da Torá a parte da parashat Emor, que introduz o calendário das festividades bíblicas. “Fale ao povo israelita e diga a eles: Estas são Minhas datas fixas, as datas fixas de Ad-nai, que vocês proclamarão como ocasiões sagradas” (Lev 23:1) O tempo é divino, não temos nenhuma condição de controlar ele, mas temos a possibilidade de dar sentido, somos chamados a marcar e santificar.

Duas semanas passaram desde que ouvimos juntos o som do shofar que veio despertar nossa alma, nosso ser. O shofar em Rosh HaShaná nos acorda para refletir, para voltar a nosso verdadeiro ser, ouvir nossa voz interna que foi se apagando, silenciando com o passar do ano com tantos ruídos e tantas distrações. No final de Iom Kipur, embaixo do talit unidos como comunidade, nos emocionamos e nos unimos, cheios de promessas e desejos, esperança de renovação e bençãos, com leveza em nossas almas, confiantes de ter nos libertado do peso de nossos erros e perdoado a quem nos fez mal ouvimos novamente o shofar com a intenção deste ano ficar mais atentos, mais focados e mais sensíveis às coisas realmente importantes em nossas vidas. 

A primeira mitzvá após os dias temíveis é construir a casa que moraremos por sete dias, para lembrar que Deus fez nosso povo viver em sucot quando nos libertou de mitzraim. Mitzraim… aquele lugar estreito onde fomos escravos por séculos, onde a opressão foi tal que perdemos a capacidade de pedir ajuda, clamar a Deus, onde o trabalho forçado o cansaço físico e abatidos nos adormeceu, e ficamos presos numa realidade que achávamos impossível de mudar por nós mesmos.

Vivemos no deserto em Sucot por 40 anos, foi um longo caminho de volta para casa. Precisamos de todo esse tempo para nos preparar, para acordar, para acreditar e para ter a força necessária para criar uma nova vida, com todas as promessas e oportunidades que Deus e a terra nos dariam.

Por sete dias, somos chamados a viver nestas cabanas. Durante as Grandes Festas fizemos nosso máximo esforço para nos libertar de nossos espaços estreitos, criar espaço, amplitude em nossos corações e começamos andar nosso próprio caminho em direção à nossa terra prometida o ano que nos comprometemos a criar para nós individualmente, juntos como comunidade e como povo.

Sucot e zman simchatenu o tempo de nossa alegria. Nos alegramos porque chegou o tempo da colheita, nos alegramos porque passo o medo do julgamento, nos alegramos porque depois de reconhecer nossa humanidade, nossos erros, nossas dores e frustrações. a possibilidade de nossa morte entendemos que não e nossa experiência física e material que nos protege sabemos que somos parte da natureza, da criação que somos nós que devemos cuidar e proteger ao mundo e não o mundo que nos deve o pode proteger se nao Ad-nai nosso Deus.

Vivemos em sucot porque antes de voltar a casa é preciso experimentar com todo nosso corpo, nossos sentidos e nossa alma a Presença Divina acordados e em alegria. 

Não precisamos sofrer, não precisamos adoecer, não precisamos de uma crise nem jejuar para mudar, podemos fazer desde nossa alegria, maravilhadas por um céu cheio de estrelas, a simpleza e complexidade dos frutos da terra que nos sustentam, a humildade de um lar simple com duas paredes e meia um teto aberto que não nos protege da chuva pero nos lembrar quem somos que valorizar. “Cubra nos com a Suca da Tua paz”

Que neste shabat, durante a festividade de Sucot e 5784 estejamos acordados e preparados para abraçar o mundo que Deus criou para nos cuidar e desenvolver, nossa única e verdadeira morada.

 

Shabat shalom e Chag Sameach

Rabina Tamara Schagas