A festa de Sucót está descrita na Torá e remete aos quarenta anos da travessia do deserto, nos quais nossos antepassados viveram em cabanas.
 
A tradição judaica é muito rica na proposta de experiências para reviver momentos que marcaram a formação de nosso povo: Pêssach lembra a saída do Egito, comemos matsot e ervas amargas para lembrar-nos do sofrimento da escravidão; Shavuót lembra a entrega da Torá e por isso estudamos em comunidade durante a noite, para estarmos preparados para receber os dez mandamentos logo cedo; Sucót lembra a travessia do deserto, que faz a ponte entre a saída do Egito e a entrada na Terra Prometida: “para que as gerações saibam que nas cabanas fiz habitar os filhos de Israel quando os tirei da terra do Egito” (Levítico 23:43), portanto também vivemos em cabanas.
 
No entanto, as três festas têm um lado agrícola importantíssimo. Sucót é a festa da colheita: “aos quinze dias […] quando recolherdes o produto da terra, celebrareis a festa do Eterno por sete dias” (Levítico 23:39). Na época da colheita, o povo fazia vivendas provisórias mais próximas às plantações para otimizar o trabalho.
 
Será que deveríamos nos perguntar qual a razão principal da festa? O povo que escuta a Torá em primeira mão está no deserto, vivendo em cabanas, mas estão se preparando para chegar à Israel e terem terras e colheita. Será que deveríamos simplesmente substituir um significado pelo outro?
 
Parecem motivos inconciliáveis. Porém não são.
 
Existe um elemento essencial que une ambas as situações. Uma de fragilidade explícita como viver no deserto, porém com a comida garantida pelo maná. A outra, de fragilidade implícita, uma vida estabelecida, mas sem garantia de que a plantação dê frutos. O que une ambos é o relacionamento profundo e a fé que temos em Deus.
 
Esse Deus que nos tirou do Egito e nos protegeu durante toda a travessia para que chegássemos em segurança à Terra Prometida, e que também nos dará a chuva necessária para podermos colher no ano seguinte. É em Sucót que Deus define quanta chuva virá no próximo ano, do que depende diretamente a produção agrícola.
 
Hoje, distantes do deserto e da produção agrícola, na maioria dos casos, quando saímos para viver uma semana na sucá, estamos lembrando que somos frágeis e que devemos reforçar nosso relacionamento com o Divino. Tudo parece sempre muito seguro e concreto, a fragilidade é cada vez mais implícita, individual e interna. Cada vez mais difícil de assumir.
 
Os dois motivos que temos para celebrar Sucót são dois extremos e entre eles existem infinitas possibilidades para encontrarmos nossos diferentes tipos de fragilidade.
 
Que a construção frágil da sucá nos lembre de que não precisamos estar em extremos para reconhecer nossas próprias fragilidades. E que permita que reconheçamos que não precisamos de extremos para estabelecer um relacionamento profundo com Deus.
 
Shabat Shalom e Chag Sameach.
Rabina Fernanda Tomchinsky-Galanternik