Prédica de Rosh Hashaná
O voto judaico
O desânimo com as eleições que se aproximam é grande. Os sucessivos escândalos de corrupção, desmascarados nos últimos tempos, nos assusta. A constatação de que muitos dos candidatos são os mesmos que estiveram aí nas últimas eleições, desestimula. Política virou palavra feia e políticos sinônimo de ausência de compromisso ético. Para piorar o quadro, o debate saiu recentemente do campo das ideias para a violência física, o que é absolutamente inadmissível.
Neste período das Grandes Festas judaicas, que vai do Ano Novo até o Dia do Perdão, gostaria de buscar no judaísmo inspiração para seguirmos participando dos destinos do Brasil. Será que existem posturas judaicas diante das eleições? Existe “voto judaico”? Em quem Deus votaria em 2018 para presidente do Brasil? Existem princípios que o judaísmo defende de maneira sistemática. Embora nossa tradição seja marcada pelo debate e pluralidade de posições, a prática do judaísmo se manteve fiel a alguns princípios que podem nortear nosso voto em um cenário complexo como este que se apresenta. O primeiro destes princípios é a obrigação de não se abster. O judaísmo nos estimula a participar da vida com toda a sua complexidade. A abstenção no voto não é a postura indicada pelo judaísmo, mesmo em um cenário de opções medíocres. Isto porque anular ou votar em branco significa se eximir da responsabilidade e deixar a solução nas mãos de outrem. Assumir responsabilidade é um valor judaico. Quem não exerce seu dever de votar incorre no
pecado da omissão. Depois que Caim matou Abel, Deus perguntou a ele: “Onde está o teu irmão”? E Caim respondeu: “Não sei. Por
acaso serei eu o guardião do meu irmão?”. Esta pergunta ecoa há 5779 anos, segunda a contagem judaica. Somos sim guardiões de nossos irmãos e irmãs e a alternativa seria o assassinato da humanidade que existe em nós.
Uma vez tomada a decisão de votar, precisamos decidir qual seria o candidato ideal. Nossa história milenar nos ensinou a apreciar diretrizes que contribuíram com o desenvolvimento livre de nossa comunidade e a consequente participação na sociedade maior. O estado laico é, sem dúvida, um desses valores que assegurou a liberdade de judeus e judias desde a Revolução Francesa
em diversas sociedades em que vivemos. Com o início da modernidade, os judeus europeus foram convidados a se tornarem cidadãos dos países onde viviam. Em um primeiro momento, isto significou uma crise de identidade de grandes proporções. Aqueles judeus do
século 19 não compreendiam como seria possível manter sua fidelidade a um governo secular e sua lealdade ao judaísmo concomitantemente. Como resultado, houve uma enorme assimilação. Entre as amarras do antigo Gueto e as possibilidades atrativas da sociedade europeia, a maioria optou pelo distanciamento do judaísmo. Para enfrentar esse desafio, surgiram as correntes
judaicas contemporâneas. Com estratégias distintas, o judaísmo reformista, conservador e ortodoxo buscaram uma maneira de conciliar a identidade religiosa e a nacional. Enquanto o judaísmo reformista propunha uma flexibilização do ritual, a nascente ortodoxia recomendava um enrijecimento da tradição em um movimento de autosegregação.
A corrente conservadora, no meio do caminho, propunha que algumas praticas básicas deveriam ser cumpridas enquanto outras fossem reinterpretadas à luz da nova condição judaica. Até o ano 1890, o Brasil foi um país católico. Hoje, vivemos em um estado laico. Alguns resquícios da época em que o Brasil tinha religião oficial ainda estão presentes em nossa cultura. Permanecem símbolos religiosos em
espaços públicos, como crucifixos em tribunais, e datas cristãs ainda determinam os feriados em nosso calendário nacional. O fato é que vivemos em um país que se empenha em separar a religião do Estado.
O professor Celso Lafer, em seu livro “Estado laico”, afirma: “(…) o espírito laico, que caracteriza a modernidade, é um modo de pensar que confia o destino da esfera secular dos homens à razão crítica e ao debate, e não aos impulsos da fé e às asserções de verdades
reveladas.” Ao mesmo tempo, uma separação não significa ausência de diálogo. As religiões possuem o potencial de contribuir para o debate de temas de interesse comum, assim como as demais agremiações da sociedade. Este ano a comunidade judaica foi convidada para uma audiência pública no Supremo Tribunal Federal sobre a descriminalização do aborto. Lá, pudemos manifestar a alegria de ver o judaísmo convidado a opinar sobre um tema nacional relevante. Deixamos claro também a esperança de que a solução do debate não seguisse a orientação judaica ou de qualquer outra religião específica, mas atendesse aos interesses dos brasileiros e do Brasil.
O voto judaico deveria buscar um governante que, independentemente de sua convicção religiosa, fosse capaz de conduzir os debates de maneira ampla. Temas sensíveis como descriminalização das drogas e do aborto, o reconhecimento das relações homoafetivas, entre diversos outros, não deveriam ser decididos em função de uma ou outra religião. Nos processos de tomada de decisão, deveria haver a possibilidade de escutar o que as tradições religiosas e também aqueles q u e e m n a d a
creem teriam a dizer.Outro princípio defendido de maneira consistente pela tradição judaica é a defesa dos direitos humanos. “Kevod
HaBriót Dochê Lo Taassê SheBaTorá”, os sábios do Talmude estabeleceram que qualquer proibição bíblica poderia ser ignorada para salvar a honra de uma pessoa. Já o Pirkei Avót, conjunto de regulamentos morais redigidos há dois mil anos, questiona: “Im Ani LeAtzmí, MaAní”. Se eu cuidar apenas de mim, o que serei eu”?
Nos orgulhamos de termos legado os Dez Mandamentos para a humanidade e, principalmente, tê-los adotado como cláusulas pétreas de nossa conduza social. Ideias como a proibição de matar ou roubar foram esculpidas nas pedras da civilização ocidental pela tradição judaica. A redação da Declaração Universal dos Direitos Humanos teve uma importante participação judaica. Ela nasceu não apenas como como consequência da Segunda Guerra Mundial e da Shoá, mas foi influenciada por princípios milenares da tradição mosaica.
O judeu francês Rene Cassin e o judeu canadense John Humphreys deram contribuições essenciais para a elaboração da declaração da ONU que completará 70 anos no próximo 10 de dezembro. O voto judaico deve privilegiar candidatos capazes de
condenar enfaticamente qualquer violação dos direitos humanos no Brasil e no mundo. Constatamos a verdadeira obsessão que carregou a tradição judaica na direção da construção de uma sociedade equilibrada e justa. O princípio de justiça social,
tradução mais fiel do termo tsedacá, ganhou mecanismos sofisticamos ao longo dos milênios da existência judaica. A defesa de um Estado que dê maior ou menor liberdade à iniciativa privada aparece no debate entre diversos candidatos. Independentemente do tamanho do Estado, é preciso assegurar que existam mecanismos para cuidar das pessoas mais vulneráveis dentro da sociedade.
Na lei bíblica, havia o instituto do Ano do Jubileu. A cada 50 anos, as propriedades retornavam para seus donos originais para impedir que houvessem excessivas discrepâncias sociais. Ao longo da história, a tsedacá sempre fez parte da cultura judaica e a ajuda ao
necessitado marcou nossa trajetória de perseguição e pobreza. Desta maneira, o voto imbuído de valores judaicos deveria buscar um candidato sensível às necessidade dos refugiados, órfaos, viúvas, desempregados e adictos. O voto judaico deveria privilegiar pessoas capazes de desenvolver políticas públicas que protejam a margem mais débil da sociedade e não reforcem mecanismos assistencialistas. Estratégias que não “distribuam varas”, mas garantam que cada um seja capaz de pescar seu próprio peixe. Pois segundo o pensador medieval Maimônides, este é o mais elevado grau de tsedacá. Finalmente evoco o princípio dos direitos das
minorias. Desde a destruição do primeiro Templo e o exílio babilônico em 586 antes da Era comum, os judeus se habituaram a viver como minoria. Desenvolvemos instrumentos judaicos para incorporar as leis civis em nossa legislação religiosa. Dina DeMalchuta Dina é o princípio aramaico segundo o qual a lei do país onde vivemos deve prevalecer. A maneira como um governante lida com as minorias é
de interesse da comunidade judaica. O grau de democracia de uma nação é medido hoje muito mais por sua sensibilidade em relação à demanda das minorias do que sua capacidade de ouvir as maiorias.
Em alguns casos, não se trata de uma minoria numérica, mas grupos com capacidade de influência limitada por uma história de perseguição e exclusão. Assim, a maneira como o Estado trata povos indígenas e descendentes de quilombolas é um assunto absolutamente judaico. A liberdade de culto das religiões afrodescendentes é importante para a nossa comunidade. A
luta para que negros e mulheres possuam as mesmas chances que homens brancos é um tema central para o voto judaico.
Neste período das Grandes festas judaicas, o ritual principal acontece por meio das rezas. Em Rosh HaShaná(Ano Novo) e no Iom Kipur (Dia do Perdão) dedicamos a nossa energia em longos momentos na sinagoga com um livro litúrgico nas mãos.
Muitas das orações realizadas neste período aparecem no plural. Avinu Malqueinu (“Nosso Pai, nosso Rei”) e o Vidui, a confissão simbólica de nossas transgressões, figuram na forma coletiva. A explicação mais comum é de que somos responsáveis uns pelos outros e, por este motivo, rezamos no plural. Quero sugerir uma interpretação alternativa.
No período das Grandes Festas avaliamos nossos erros e acertos, investigamos nossas conquistas e derrotas, analisamos boas ações e também nossas trangressões. No entanto, será que o certo e o errado estão sempre óbvios? Será que eles não evoluem com o passar do tempo? Quem determina qual é o certo e qual é o errado a cada tempo, para cada situação?
Se na sociedade bíblica era possível ter várias mulheres, possuir escravos, sacrificar animais e apedrejar pessoas, hoje já não é.
Gostaria de sugerir que nossas rezas estão no plural para indicar que quem determina a distinção do certo e errado em cada momento é a sociedade. Precisamos uns dos outros para compreender, em cada situação, onde se encontra a inapropriação e, por outro lado, a adequação. Sem a coletividade, perdemos nossa bússola moral e o exercício de pedir perdão e buscar o aprimoramento se
torna arbitrário.
Quando nos engajamos com seriedade em um processo eleitoral, estamos buscando descobrir para onde a maioria quer ir. A escolha de legisladores, governadores e presidente é a oportunidade de medir a temperatura ética de uma sociedade. Recomendo que busquemos fortalecer um caminho coerente com os valores que a nossa longa tradição ensinou a apreciar. Que sejamos inscritos no livro da participação sem omissões, do aprimoramento da separação entre Estado e religião, do fortalecimento dos direitos humanos, da
sensibilidade por questões de justiça social e garantia das prerrogativas das minorias. Assim, se não pudermos descobrir o voto secreto de Deus, ao menos, teremos a sensação de votar na urna eletrônica ao Seu lado. Feliz 5779, Shaná Tová!
Prédica de Iom Kipur
Comunidade
Havia um rabino que era conhecido por ter uma história apropriada para contar em cada situação. Assim, se as pessoas se aproximassem dele com alguma dúvida, dilema ou pedido de ajuda, ele sempre conseguia responder com uma parábola apropriada para aquela situação específica.
Um dia, seus congregantes tomaram coragem e resolveram tentar desvendar o seu mistério. Formaram então uma pequena comissão e foram visitar o religioso. “Rabino”, eles perguntaram, “qual é o seu segredo? Como você consegue ter uma história adequada para cada situação?” E o sábio, como se era de esperar, respondeu da seguinte maneira: “vou contar a vocês uma história”. de Certa vez, em um lugar bem distante daqui, havia um jovem arqueiro. O rapaz era muito talentoso e ganhava todos os concursos dos quais participava. Saiu da aldeia para a cidade grande quando já era conhecido como um exímio atirador de flechas. Às vésperas de um grande concurso, durante uma entrevista, fizeram a ele a pergunta. “Como você faz para acertar a flecha bem no centro do alvo?”. Ele olhou para a jornalista e respondeu: “primeiro eu lanço a flecha e, depois, desenho o alvo”. “O mesmo acontece comigo”, explicou o rabino, “quando alguém me procura com alguma aflição, escuto com muita atenção. Depois decido qual é a mensagem que gostaria de transmitir para aquela pessoa e, depois de lançar a flecha, desenho uma parábola em volta do alvo.”
Na CIP, recentemente, elegemos a empatia como o tema central de nossa Congregação. Seremos uma comunidade tão mais bem sucedida quanto formos capazes de ir em direção aos nossos sócios e frequentadores no momento, na intensidade e da maneira como necessitam.
Este exercício é extremamente complexo e demanda muita energia. No entanto, não existe alternativa. de Costumo dizer que as pessoas sempre serão capazes de desculpar um rabino por uma prédica medíocre.
No entanto, se a comunidade faltar em um momento essencia da vida de uma pessoa, a reconstrução do vínculo entre o indivíduo e sua congregação será muito mais complexa e, por vezes, impossível.
Mas será que pertencer a uma comunidade continua sendo algo relevante? Afinal de contas, vivemos em tempos líquidos, como nos ensinou o sociólogo Zygmunt Bauman.
Podemos ser fieis a diversas comunidades ao mesmo tempo e também não ser fieis a comunidade alguma. Em um curso sobre captação de recursos nos Estados Unidos, certa vez, ouvi que as novas gerações de doadores não investem em instituições, mas apenas em projetos.
Acredito que alguns projetos são maravilhosos, no entanto, eles não possuem perenidade. Pertencer a uma comunidade significa se conectar a algo que existiu antes de nós e seguirá existindo depois. O relacionamento com uma congregação representa a segurança de ter a quem recorrer. Todos os membros de uma sinagoga passam por momentos de maior ou menor proximidade em relação a sua congregação, mas sabem que terão com quem contar no momento em que precisarem. Perenidade, no entanto, não significa congelamento.
Uma congregação viva é capaz de revisitar seus valores constantemente. A CIP de hoje não é, seguramente, a CIP de vinte ou cinquenta anos atrás e não será a CIP do futuro. Mas existe um fio condutor. Quem identifica esta continuidade é capaz de sentir-se abraçado mesmo diante do estranhamento com determinadas novidades. Pertencer a uma congregação é também acreditar nas pautas propostas pela liderança daquele agrupamento. Mesmo quando há discordâncias pontuais, o grupo permanece unido porque existe um objetivo maior.
Ainda quando há discussão, podemos fazer isto de uma maneira mais ou menos comunitária. Mais do que isto, eu ousaria afirmar que o sagrado se encontra justamente em nossa capacidade de discordar sem deixar de nos relacionar. O dissenso pode ainda ser fator de aproximação e aprofundamento das relações intra-comunitárias. Ouçam o que ensina a Ética dos Pais, o Pirkei Avót. Existem discussões que são sagradas e outras que são profanas. O exemplo de discussão sagrada, ou “leshem shamaim”, na linguagem da Mishná, são os debates entre Shamai e Hilel. A discussão profana é aquela liderada por Korach e seus seguidores.
Shamai e Hilel eram sábios que discordavam de tudo. No entanto, seus debates foram percebidos pela tradição rabínica como exemplo de discussões sagradas. E por quê? Porque era um debate que contribuía para o aprofundamento das relações. É verdade que discordavam, mas não deixavam de se falar por causa disto. O dissenso era aceito como algo natural. Justamente por poderem discordar um do outro, relacionavam-se de maneira ainda mais verdadeira e profunda. Em outras palavras, não deixaram de ouvir o Col Nidrei lado a lado apesar de suas diferenças. Korach, personagem bíblico, no entanto, era um rebelde sem causa. Queria retirar a liderança de Moshé e Aharon. Travou uma luta de ego e não aprofundou nenhuma relação. Pelo contrário, foi se afundando em seus próprios argumentos e sua batalha egoísta. Talvez o castigo de ter sido devorado pela terra simboliza justamente isto.
Por não conseguir enxergar na disputa uma oportunidade de aprofundar relacionamentos comunitários, acabou se afundando. Notem que quando a primeira dupla é descrita, estamos falando de oponentes que se relacionam pelo debate, de um lado Shamai e no outro Hilel. No entanto, quando o texto fala de Korach e seus seguidores, não há aqui qualquer oponente. Neste caso, a discórdia não é oportunidade de aproximação, mas motivo de isolamento.
Korach não conseguir mais pertencer a sua “sinagoga”. Por isto a consequência foi ser devorado pela terra, pelo ego primitivo que não foi confrontado por uma auto-análise corajosa que se dá no contato com o outro.
No século 21, a importância dos relacionamentos é objeto de estudo acadêmico. Por 80 anos, pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, têm procurado o fator mais importante para a conquista da felicidade. O Estudo sobre o Desenvolvimento Adulto começou analisando 700 pessoas entre estudantes da renomada universidade e moradores de bairros pobres de Boston.
A pesquisa acompanhou esses jovens durante toda a vida, monitorando seu estado mental, físico e emocional.
O estudo continua agora com mais de mil homens e mulheres, filhos dos participantes originais. O atual diretor do estudo, o quarto desde o início, é o psiquiatra americano Robert Waldinger.
“Há muitas conclusões deste estudo”, disse Waldinger à rede de tv BBC. “Mas o fundamental, que ouvimos uma e outra vez, é que o importante para nos mantermos felizes e saudáveis ao longo da vida, é a qualidade dos nossos relacionamentos”.
“O que descobrimos é que, no caso das pessoas mais satisfeitas em seus relacionamentos, mais conectadas ao outro, seu corpo e cérebro permanecem saudáveis por mais tempo”, afirma o acadêmico norte-americano.
Em seu livro “Judaísmo relacional”, Ron Wolfson nos chama a atenção sobre o impacto dos relacionamentos em Deus. Se nos despojarmos da visão Greco-Romana de um Deus Onipresente, Onisciente e Onipotente, perceberemos que a divindade das fontes judaicas é outra. Na Torá, Deus é uma personagem que, como as demais, é impactada pelos relacionamentos. Logo depois de criar os primeiros serem humanos, “Deus se arrepende de ter criado homens e mulheres e Seu coração se entristece”. Quando o povo substitui Deus por um bezerro de ouro, “Deus decide destruir todo o Povo de Israel e recomeçar a história a partir de Moisés”. No entanto, o líder demove Deus desta decisão com o argumento retórico: “o que diriam os egípcios sobre Você, falariam que Deus tirou os hebreus da escravidão para destruí-los”. E, então, “Deus muda de ideia”. Um Deus que se arrepende, que repensa suas decisões é um Deus empático. A lição parece óbvia. Se Deus se deixa impactar e se aprimora em função dos relacionamentos, imaginem o quanto nós somos dependentes dessas mesmas relações para nos tornarmos melhores.
O trecho que será lido, amanhã, na sinagoga, é Nitsavim. Uma passagem da Torá que fala sobre a importância da comunidade. “Atem nitsavim haiom culchem lifnei Adnai Eloichem”, “vocês estão presentes hoje diante de Deus”. Todos, sem exceção, devem ser parte da congregação. Essa leitura, em pleno Iom Kipur, deve ser compreendida como um chamado para analisarmos o quanto já percorremos no caminho de fortalecimento de nossa congregação e o quanto ainda falta caminhar.
Gostaria de convidar cada um de vocês a uma auto-análise. O quanto você tem feito para fortalecer a nossa CIP? Com alguma freqüência somos alvo de crítica por alguma atitude. Não vejo qualquer problema nisto, afinal de contas a crítica é uma importante ferramenta de aperfeiçoamento. No entanto, quando convidamos nosso crítico a se envolver mais, normalmente amarguramos uma negativa. É óbvio que a CIP pode fazer mais e melhor mas, para isto, precisamos de uma dose maior de engajamento de cada um de vocês. Estarmos presentes no Iom Kipur é importante. No entanto, ainda sobram 364 dias de atividades nas quais gostaríamos de contar com a participação de vocês. Venham verificar como estamos celebrando cada uma das festas judaicas demaneira crítica e criativa. Experimentem nossos cursos de judaísmo que acontecem diariamente. Venham cantar e dançar na CIP. Existem atividades para crianças pequenas, jovens, adultos e idosos. Participem de nossos Dilemas Éticos, discussões de temas atuais da sociedade com especialistas de renome. Venham participar de nossas iniciativas de ação social como o Lar das Crianças. Verifiquem se a contribuição financeira que estão realizando é, de fato, o maior esforço que poderiam fazer para o fortalecimento desta congregação. A comunidade continua desempenhando um papel central no mundo contemporâneo.
A empatia, segue sendo um elemento essencial no fortalecimento de uma congregação que pretende olhar com atenção para cada um de seus membros. Se tentarmos atirar as flechas em alvos já desenhados, vamos acertar algumas vezes e errar em outras. Por isto, recomendo que aprofundemos a nossa capacidade de escuta quando concordamos e quando discordamos. E, depois de atirar a flecha, que sejamos capazes de desenhar um alvo novo para cada situação. Que sejamos confirmados no livro dos relacionamentos significativos e duradouros.
Chatimá tová!
Michel Schlesinger, bacharel em Direito pela USP, é rabino
da Congregação Israelita Paulista e representante da
Confederação Israelita do Brasil para o diálogo interreligioso.