Esta semana, lemos Parashat Tsav, uma porção que, à primeira vista, parece profundamente enraizada no mundo antigo do Mishkan — sacrifícios, rituais sacerdotais e detalhes minuciosos de cada oferenda. Mas, se ouvirmos atentamente, sob a superfície do fogo e das cinzas, Parashat Tzav nos sussurra algo profundo, enquanto estamos a poucos dias de Pêssach, a Festa da Liberdade.

Um dos temas centrais desta parashá é ordem e responsabilidade. A própria palavra “Tsav” significa comando — uma diretiva forte. Deus ordena a Moshé que ordene a Aharon e seus filhos os procedimentos rituais dos sacrifícios. Eles não recebem simplesmente permissão ou orientação — recebem uma incumbência, uma obrigação sagrada.

Por que isso é importante agora?

Pessach nos convida a celebrar a libertação — a saída do lugar estreito do Egito para a possibilidade da expansão da liberdade. Mas a Torá, e particularmente a Parashat Tsav, nos lembra que liberdade não é a ausência de responsabilidade, mas o seu início.

Os sacerdotes não podiam deixar o fogo se apagar no altar; ele tinha que queimar constantemente. Era um símbolo de dedicação perpétua — o tipo que não se apaga com o tempo. Em nossos dias, não trazemos oferendas e sacrifícios animais, mas ainda mantemos as chamas acesas: a chama da tradição, a chama da justiça social, a chama da comunidade.

Ao nos prepararmos para nossos Sedarim desta semana, não estamos apenas relembrando uma história antiga. Estamos reencenando uma jornada que ainda está em andamento. Todos os anos, Pêssach nos convida a perguntar: o que significa liberdade agora?

Em um mundo abalado por conflitos e incertezas, pelo crescente antissemitismo, pelas guerras, e por crises humanitárias em todo o mundo, somos chamados a responder não apenas com memória, mas com clareza moral e compaixão. A liberdade não pode ser apenas para nós; deve ser uma esperança compartilhada, um esforço coletivo.

Neste Shabat, convido a cada um e cada uma de nós a buscar aquela chama acesa da tradição, a chama dos valores e das práticas judaicas que nos guiam pelo mundo de geração em geração e renová-la através do ritual do Sêder, contando novamente a nossa história, da opressão para a liberdade.

Que possamos levar a lição de Tsav para esta época: que a verdadeira liberdade é forjada não apenas pela libertação, mas pelo amor, pelo trabalho e pelo trabalho contínuo de serviço sagrado em nossas vidas e comunidades.

Que este Pêssach nos ilumine e nos aproxime da redenção e da paz.

 

Shabat Shalom e Chag Kasher vesamêach!

Rav Natan Freller