Quando perdemos somos desafiados a saber fazê-lo. Para isso é necessário desapego à ambição que tínhamos a respeito da conquista que almejamos, ao nosso amor próprio. Aceitar as virtudes de quem venceu, que podem ser maiores que as nossas, além da injustiça ou do azar, quando não for o mérito alheio nem nossa fraqueza a razão do nosso fracasso.

Entretanto, poucas vezes ouvimos sobre o desafio de saber ganhar. 

Entre os numerosos temas que trata a parashat Nassô, conta-se a famosa bênção dos cohanim, a mais antiga de todas, a única que não inclui a fórmula “Baruch Ata Ad-nai” e sim três frases emblemáticas que repetimos com frequência. 

A primeira dessas frases diz: Deus te abençoe e te proteja.

As perguntas são inevitáveis: isso não é uma redundância? Uma bênção não inclui proteção? É necessária outra proteção após, além ou por causa da bênção? A bênção poderia ser uma ameaça?!

Ao longo dos séculos foram sugeridas sábias respostas. Aparentemente todas apontam para aprender a ganhar. Saber estar na posição de quem vence, conquista, consegue e recebe com dignidade, cuidado, respeito, gratidão, humildade e amor. 

Seguem algumas delas:

  1. Saber receber a bênção. Estar aberto e disposto para ela. Afinal, nada entra nem chega realmente a nós se não soubermos acolhê-lo.
  2. Ter a firmeza, a determinação e a força para querer o suficiente e ir até o fim. Algumas vezes não conquistamos por desistir antes de tempo.
  3. A bênção não é infinita, pode acabar e a proteção poderia pedir ajuda para esse momento. Ou seja, cientes de que a bênção não é de sua propriedade nem está garantida nunca, devemos nos conceber sempre também sem ela.
  4. Como a continuidade da bênção não está garantida, a proteção se refere ao cuidado e manutenção da própria bênção. A bênção que se mantém.
  5. A proteção seria a manutenção dos méritos que nos fizeram dignos da bênção. Continuar merecendo-a.
  6. A bênção pode criar arrogância, segurança exacerbada e, portanto, falta de empenho, humildade, gratidão e valorização. A proteção implicaria saber se cuidar desses vícios que podem vir junto com o sucesso. Evitar a mediocridade de quem se acostuma com a conquista e se atribui a ela demais. Evitar deixar de valorizar o que tem, o que é. Evitar confiar demais no que se tem e no que se é.
  7. A bênção como todo êxito pode gerar invejas e brigas. A proteção dita se referiria a elas.
  8. A bênção, a conquista, às vezes faz com que esqueçamos nossas origens e alguns aspectos essenciais de nossa personalidade. De nossa história e anteriores a ela. Nós somos também quem éramos antes da conquista. Reconhecê-lo é também um cuidado.
  9. O sucesso pode acontecer em detrimento de outros, por causa do fracasso de outros. A proteção manteria a sensibilidade para com quem pagou um preço pelo nosso sucesso e que em todo caso continuemos atentos a quem precisaria da mesma bênção. Nos proteger de nossa possível cegueira embriagada de êxito.

Que tenhamos a virtude de merecer a bênção do sucesso não só ao chegar mas também após tê-lo atingido. Que saibamos administrar emocionalmente, psicologicamente e socialmente nossos êxitos.

Shabat Shalom,

Rabino Dr. Ruben Sternschein