Uma mulher grávida está prestes a dar à luz. O marido quer um filho, então ele reza: “Por favor, Deus, que seja um menino”. Esta é uma reza vazia. Um homem retornando de uma viagem escuta um alarme de incêndio em sua cidade. Ele reza: “Por favor, Deus, que não seja em minha casa”. Esta é uma reza vazia. (Mishná Brachót 9:3).
 

Na opinião dos sábios do Talmud, a reza vazia é aquela sobre algo que já está determinado. Quando a mulher já está grávida ou o incêndio já ocorreu, de nada adianta rezar porque a realidade vai vencer qualquer expectativa.

 

Esta mishná parece distinguir reza de mágica. Mágica é nosso desejo primitivo de mudar milagrosamente uma realidade estabelecida. Reza, na opinião dos nossos sábios, é algo muito mais complexo, mais elaborado e mais humano.

 

A reza não tem o poder de mudar Deus, mas tem a possibilidade de mudar nós mesmos. A reza não traz o céu para baixo, mas nos eleva em direção a ele.

 

Em Shelach Lechá, a parashá desta semana, lemos a história dos doze espiões que visitaram a Terra Prometida. Na volta, dois deles elogiaram Canaã e os outros dez ficaram assustados e desencorajaram o restante do povo. O que aconteceu? Por que os doze viram as mesmas coisas mas voltaram com descrições tão conflitantes?

 

Quero alegar que a diferença entre os espiões se deu pela maneira como rezavam. Os dez que criticaram a Terra Prometida acreditavam que bastava rezar para que as coisas acontecessem como na mágica. Quando chegaram a Israel, ficaram assustados porque viram que a vitória exigiria muito esforço por parte deles. Já Iehoshua e Calev sabiam que a reza é uma possibilidade de se fortalecer para enfrentar os desafios que ninguém vai superar em nosso lugar e, por isso, conseguiram enxergar a beleza da Terra Prometida com todos os seus desafios.

 

Eu rezo a Deus que nós possamos ter a sabedoria, a força e a coragem necessárias para não esperar que os desafios se resolvam de maneira milagrosa. Eu peço a capacidade de escutar nossas próprias rezas, de reconhecer a beleza da vida em nossa volta e de saber que a conquista de cada uma de nossas terras prometidas vai depender de nossa capacidade de assumir responsabilidades em nossas próprias mãos.

 
 

Shabat Shalom.
Rabino Michel Schlesinger