Nesta semana lemos Bo, que é a terceira parashá do livro de Êxodo (Shemot). É nela que estão relatadas as três últimas pragas que Deus lançou sobre o Egito. A oitava praga é a dos gafanhotos; a nona, da escuridão; e a décima e última – e pior delas – a morte dos primogênitos.

 

Interessante verificar que este trecho semanal da nossa Torá traz diversas leis e costumes que cumprimos até hoje.

 

A primeira das leis refere-se aos costumes de Pêssach. Daí a lei de não comermos fermento e nem o possuirmos em casa durante a festa, que tem duração de sete dias. O calendário judaico tem seu início justamente no mês de Pêssach, durante a primavera em Israel.

 

Também o nome da festa tem sua origem nesta parashá. A palavra “pêssach” (saltou) é encontrada aqui. Deus nos conta que iria saltar sobre as casas dos judeus, evitando assim que o anjo da morte, encarregado da morte dos primogênitos, levasse também aqueles do povo judeu. Daí o nome da festa.

 

Umas das maiores mitsvót de Pêssach é contar aos filhos, e aos filhos dos filhos, que o povo judeu foi escravo no Egito e que Deus, com mão forte e braço poderoso, o tirou da escravidão. A obrigação do povo judeu de colocar a mezuzá no batente da porta de entrada de suas casas também provém desta parashá, e está diretamente ligada à praga da morte dos primogênitos. Ou seja, colocamos a mezuzá em nossos batentes assim como nossos antepassados foram instruídos por Deus a tingirem seus umbrais com o sangue do cordeiro, tornando assim suas casas reconhecíveis como casas judias.

 

Ainda em Bo está relatado o costume do Pidión haBen, a cerimônia na qual o primogênito de um casal é “resgatado” de Deus por meio de um pagamento simbólico. A obrigação da colocação dos tefilin (filactérios) também provém deste trecho.

 

Após quatrocentos e trinta anos de escravidão, finalmente o povo é liberado do cativeiro no Egito. Mas é só a partir deste momento, quando o povo deixou de ser escravo do faraó e passou a ser servir a Deus, que pôde receber tantas mitsvót, pois elas são leis que só podem der feitas em liberdade. Como, por exemplo, a mitsvá de contar aos filhos e filhos dos filhos que um dia fomos escravos, e o festejo do início do calendário judaico, cujo marco é exatamente a liberdade.

 

Shabat Shalom.

Rabino Michel Schlesinger