Boa parte da parashá Tetsavê lida com o assunto da confecção da roupa sacerdotal dos cohaním. Na época do Templo, essa roupa os diferenciava dos demais judeus e investia os sacerdotes israelitas com uma aura espiritual, sem dúvida.

Diversos tipos de roupas servem para indicar claramente a função de alguém na sociedade. Reconhecemos um chef de cozinha através de sua vestimenta específica, também diferenciamos o mâitre dos demais garçons, o gerente dos outros funcionários do banco, os civis dos militares. Os Imortais da Academia Brasileira de Letras também vestem uniformes especiais nos ritos da instituição. Em Israel os rabinos-chefes se vestem com uma roupagem diferente de outros rabinos – embora não haja rabinos que sejam “mais rabinos” que outros – e, tais vestes, os destacam com relação ao cargo que ocupam naquela sociedade.

Voltando às vestes dos cohaním, vários são os detalhes daquela roupa sagrada, mas eu gostaria de chamar a atenção ao peitoral de ouro que eles vestiam, cravejado de 12 pedras preciosas, as quais representavam cada uma das tribos de Israel, na época da Torá.

Com o tempo, as tribos hebraicas se misturaram e nós nos tornamos um único povo, não mais dividido em 12 partes. Mesmo assim, os sacerdotes continuavam a vestir seu peitoral, com suas doze diferentes pedras preciosas, representando a diversidade do povo de Israel e a individualidade de cada israelita.

Assim, cada um é como uma joia preciosa e única. Cada qual brilha de maneira diferente e reflete a luz de forma distinta. Essas diferenças representam a diversidade das ideias e debates dentro do povo judeu, suas opiniões pessoais e diferentes posições em relação aos mais diversos assuntos.

Uma joia preciosa, no entanto, só pode brilhar se refletir a luz que incide sobre ela. A infinita Luz Divina incide sobre cada ser humano, mas cada indivíduo a reflete de modo distinto.

Essa Luz Divinal era representada e simbolizada no mishcán por uma “luz que não se apaga”, conforme nossa parashá. Conta a parashá Tetsavê que os israelitas trouxeram azeite para o acendimento dessa luz, o Ner Tamid. Desde então, de geração em geração, cada pedra preciosa do povo judeu retransmite aquela luz acesa há mais de 3300 anos, desde a época de Moshé Rabênu.

Que saibamos, cada um a seu modo, refletir de maneira renovada essa luz ancestral que ainda brilha, e que, pelo mérito das nossas especificidades individuais e únicas, tenhamos a felicidade de ver essa luz refletida e transformada em nossos filhos, netos e bisnetos, para que ela ainda ilumine com seu brilho por outros 3300 anos e mais.

 

Shabat shalom,

Moré Theo Hotz

 

1 O Mishcán era o templo móvel construído no deserto, que acompanhou os israelitas durante os quarenta anos de peregrinação desde a saída do Egito até seu estabelecimento na Terra de Israel.
2 “Luz Constante”. Assim era chamada a luz constantemente acesa no Mishcán, nos Templos de Jerusalém, e em cada sinagoga, sempre próxima ao Arón haCódesh, a Arca Sagrada que abriga os rolos da Torá.