Qual é sua reação ao descobrir uma virtude ou uma capacidade própria ou alheia?

Ficar feliz? Talvez se orgulhar? Se pergunta se ela é comum ou mais rara? Se pergunta quanto admirarão a virtude ou quanto a invejarão? Ou, talvez, se pergunte pela utilidade, o valor ou o sentido dela?

Na parasha da semana começa a história famosa de José e seus irmãos, que deu origem a tantos textos e peças de teatro, a tantos comentários e interpretações. Um aspecto talvez ficou menos famoso: José se vangloria de si próprio pelos sonhos que sonha, porém muito mais tarde, quando realmente está repleto de sucesso e poder, nada diz sobre si. Pelo contrário, busca como beneficiar o faraó, o povo egipicio, a economia e finalmente sua própria família, incluindo os irmãos que o venderam no passado.

Como se tivesse evoluído, crescido se transformado ao passar de ser o filho preferido para ser um escravo injustamente difamado e encarcerado duas vezes em território estranho. Ao passar do âmbito dos sonhos ao âmbito do poder real, a oportunidade real e a responsabilidade real.

O profeta Jeremias ensina: “não se vanglorie o sábio por sua sabedoria, nem o corajoso pela sua coragem nem o rico pela sua riqueza. Apenas pelo conhecimento divino que deriva na compaixão, na justiça e na justiça compassiva (tzedaka)” (Jeremias 9:22-23).

Maimônides explica que o profeta não apenas limita o valor daquelas características em si, mas principalmente a atitude frente a elas. Se se tratar de contemplar as virtudes como se fossem um espelho da vaidade para a autoafirmação elas não terão valor. As nossas capacidades valem, cada uma na sua caracteristica desde que aplicadas, experimentadas vividas e doadas ao bem maior.

A era das redes sociais nos leva no caminho oposto: se olhar e mostrar.

Talvez o começo da história de José, escrita há 4000 anos, tenha recebido uma virtude a mais nos nossos tempos e uma capacidade contributiva maior.

Que saibamos acolhê-la.

 

Shabat Shalom,

Rabino Dr. Ruben Sternschein