O MOV 20:35 promoveu, ao longo de junho, uma série de encontros para discutir a temática LGBTQIA+ dentro da comunidade judaica.

Com três transmissões ao vivo e um Cabalat Shabat especial, o MOV abordou a pauta sob o ponto de vista da comunidade, da educação brasileira e da sociedade israelense.

A temática LGBTQIA+ e a comunidade judaica

No primeiro encontro do mês, dia 9 de junho, Danny Jozsef, Michele Gruc e Nicholas Steinmetz compartilharam suas experiências como LGBTQIA+ dentro da comunidade, expondo a necessidade de abordar o tema abertamente.

“Nossas vivências como LGBTQIA+ acabam tendo um impacto direto na forma como enxergamos o judaísmo e a comunidade. Sempre nos sentimos outsiders”, conta Michele Gruc.

Michele afirma que, por mais que gostasse de estar na sinagoga, era muito difícil se sentir parte de uma comunidade que a exclui e ofende sua existência. “Você vê a comunidade se ajudando, sempre dando a mão um para o outro. Por que ninguém me acolheu? Por que, quando eu precisava ouvir que estava tudo bem, ninguém me estendeu a mão?”, desabafou.

“O que mais impactou no entendimento da minha identidade trans e judaica foi o fato de não me sentir pertencendo a espaços da comunidade. Eu tive um Bat Mitsvá, não um Bar Mitsvá, e muitas das práticas judaicas que eu queria ter aprendido, eu acabei não aprendendo”, relata Nicholas Steinmetz.

Até hoje, Nicholas sente que não sabe o suficiente sobre o judaísmo porque, por conta de sua identidade de gênero, não teve acesso. “Eu queria ter presenciado um acolhimento para ser judeu, de maneira que minha identidade LGBTQIA+ não negasse isso”, ele afirma. 

“A primeira vez que eu senti o impacto de entender que eu não era aceito foi dentro da sinagoga, lendo a parashá que diz ‘não se deitarás com um homem como se deita com uma mulher’. Isso foi muito conflitante. Eu pensava ‘eu deveria estar subindo aqui para legitimar essa frase?’”, conta Danny Jozsef.

Por conta de questões desse tipo, Danny conta que foi perdendo o interesse em subir para a leitura da Torá e, aos poucos, sentia que não queria mais fazer parte do judaísmo.

Apesar dos desafios, os participantes do encontro relataram que sua reconexão com o judaísmo após encontrar um grupo acolhedor na comunidade foi ainda mais especial!

A temática LGBTQIA+ e a educação brasileira

No encontro do dia 16 de junho, David Rehfeld, Marcela Casaca, Rodrigo Mendes e Daniela Nussbacher conversaram sobre a temática LGBTQIA+ no contexto das escolas.

“Esse assunto ainda precisa não só ser debatido dentro das escolas, mas debatido em sociedade para educar os pais. A geração dos nossos pais são os diretores das escolas, os gestores públicos que temos atualmente. Precisamos não só educar as crianças, mas educar as gerações que estão educando essas crianças”, refletiu David Rehfeld.

Ao longo do papo, foi discutido como o ambiente escolar pode ser um grande perpetuador de preconceitos e estereótipos. Para Rodrigo Mendes, “não falar é falar. No momento que a gente não desmonta algumas ideias equivocadas, estamos corroborando para a heteronormatividade”.

“Precisamos pensar na história da escola. Ela não apareceu apenas para resolver problemas, ela também serviu para manter alguns problemas. Espaços como o banheiro, a aula de educação física e a aula de ciências, por muito tempo, foram úteis para impor um pensamento heteronormativo”, afirmou Rodrigo.

Marcela Casaca, após questionar como a escola como instituição lida com esses problemas, levantou uma reflexão sobre como essas mudanças podem ser implementadas de maneira estrutural.

“Quando pensamos na violência que a população LGBTQIA+ sofre, de qual população estamos falando? As pessoas negras e pobres são as que mais morrem por serem LGBTQIA+. Quando discutimos esse tema, se não questionarmos o Estado, de qual movimento LGBTQIA+ estamos falando?”, refletiu Marcela.

A temática LGBTQIA+ em Israel — luta coletiva ou pinkwashing?

O último debate acerca do tema contou com a participação da rabina Tati Schagas, ao lado de Gabriel Paciornik, James N. Green e Rafael Tagnin

“É importante destacar que nos movimentos liberais ainda há muito trabalho a ser feito. Sermos liberais não significa que já estamos preparados e abertos para que todos possam se sentir acolhidos”, afirmou a rabina Tati.

Explicando no que consiste a acusação de pinkwashing, James N. Green diz que “o argumento é que o governo israelense utilizou das conquistas do movimento LGBTQIA+ para criar uma imagem positiva do país, cobrindo as questões de marginalização dos palestinos em Israel e nos territórios ocupados”.

Sobre isso, Gabriel Paciornik ressalta que há uma dificuldade de entendimento de uma realidade dúbia, em que o governo faz uso do discurso inclusivo como soft power enquanto a população tem necessidades reais — vontades, anseios e medos, e que faz seus movimentos internos para alcançar suas conquistas.

“É importante separar as políticas israelenses e os israelenses como sociedade”, ressalta a rabina.

Acolhimento LGBTQIA+ na CIP

Encerrando o Mês do Orgulho, o MOV.LGBTQIA+ realizou um Cabalat Shabat exclusivo para o público. O encontro teve como objetivo acolher novos membros no coletivo.

Atualmente, o projeto conta com cerca de 15 membros, e no próximo semestre irá dobrar de tamanho! Se você quiser fazer parte, envie uma mensagem no Instagram para @mov.2035!

Se aprofunde no tema!

Confira as conversas na íntegra no canal do MOV 20:35, e confira mais conteúdos da CIP sobre a pauta LGBTQIA+.

Identidade Judaica: Novas Ondas

Neste episódio do Podcast 5.8, os hosts Rogerio Cukierman e Laura Trachtenberg Hauser receberam Guilherme Pasmanik e Eduardo Barros para responder as seguintes questões: como será, no Brasil de hoje, ser jovem e judeu com todas as outras identidades acopladas que cada um traz na mala? Quais são as transformações pelas quais lutam os jovens judeus? Quais são as novas identidades judaicas que eles estão construindo?

Dilemas Éticos: Estou aqui! Construindo a inclusão LGBTQIA+ em comunidade

Neste encontro com o rabino Michel Schlesinger, o grupo Hineni (LGBTQIA+ da FISESP) falou sobre construção da inclusão da comunidade LGBTQIA+ em comunidade.