Da decisão à ação – o arco de Iom Kipur a Sucot

Uma tradição relacionada a esta época do ano diz que, logo depois do final de Neilá – a reza com a qual terminamos Iom Kipur, devemos estabelecer a primeira estaca da sucá. Se, de um lado, este costume reflete um lado prático, pois Sucot começa apenas cinco dias após Iom Kipur (sim! Sucot já começa neste domingo à noite!), por outro lado, ele busca que aproveitemos a energia espiritual que ganhamos em Rosh Hashaná e Iom Kipur e a coloquemos para bom uso. Há o risco de que a introspecção e a profunda avaliação que vivenciamos nas Grandes Festas fique apenas no campo das ideias, que nunca demos o próximo passo: o difícil processo de mudar nossas práticas, melhorar nossas condutas e abandonar nossos vícios.

 

Sucot é uma festa ligada à realidade cotidiana da vida no deserto e, depois da chegada dos hebreus à Terra de Israel, ao mundo da agricultura. Suas preocupações são terrenas, práticas e, por isso, o estabelecimento da primeira estaca da sucá logo ao término de Iom Kipur é significativo. Não precisamos esperar até o próximo mês de Elul para nos darmos conta de que todas as reflexões das últimas semanas não levaram a lugar nenhum – é importante darmos logo os primeiros passos para nossa transformação pessoal, mesmo que sejam passos pequenos, é importante darmos início a este processo.

 

A parashá desta semana, Haazinu, nos convida a continuar aprofundando a reflexão sobre como conduzimos nossas vidas, com um empurrãozinho em direção ao lado prático destas reflexões. Apesar da proteção Divina que os tirou da servidão e os acompanhou por quarenta anos no deserto, os hebreus se acostumaram aos seus privilégios e se deixaram seduzir por falsos ídolos. Sua traição seria punida com rigor, não fosse Deus – tal qual um pai ou mãe que não consegue ver seus filhos sendo castigados – mudar de ideia no último minuto. De qualquer forma, estava dada a mensagem de que, em nosso conforto, não podemos nos acomodar.  A fala final de Moshé deixa isso claro:

 

“Leve a sério todas as palavras com as quais eu te avisei hoje. Peça a seus filhos que observem fielmente todos os termos desta Torá. Pois isso não é algo insignificante para você: é a sua própria vida; por ela permanecerá por muito tempo na terra que possuirá ao atravessar o Jordão.” (Deut. 32:46-47)

 

As Grandes Festas têm o potencial de serem um grande catalisador para nossos processos de crescimento pessoal, mas se as decisões que tomamos nestas datas nunca deixarem de ser ideias, a transformação na prática nunca acontecerá. Parafraseando Moshé, estas não são questões insignificantes, são nossas próprias vidas!

 

Que a leitura deste Shabat nos inspire a considerar quais são os falsos ídolos que têm nos seduzido, sair das palavras para os atos, e começar a escrever a história que queremos ver no nosso Livro da Vida.

 

Shabat Shalom!

 

Rabino Rogério Cukierman