Parashat Nitsavim – Escolha a vida

Um dos grandes temas da época das Grandes Festas são os livros da vida e da morte. Rezamos e esperamos ser inscritos nos livros da vida, da prosperidade, da abundância e da saúde em Rosh Hashaná e que essa decisão seja selada em Iom Kipur. Dizemos na liturgia destes dias que a Teshuvá (o arrependimento), a Tefilá (a reza) e Tsedaká (nossos atos de justiça social), podem reverter alguma possibilidade de estarmos no “outro” livro. Portanto, não é mera coincidência que os sábios determinaram que a parashá Nitsavim fosse lida antes de Rosh Hashaná, já que, nela, Moshé nos ordena a escolher a vida.

 

Nossa espera para sermos inscritos no livro da vida não pode ser só uma esperança. Deve vir junto com ações concretas de escolhermos estar nesse livro, de nos inserirmos nele. Precisamos olhar para nossos caminhos e poder retornar na direção certa, nos arrepender de possíveis ações equivocadas, pedir perdão, através das palavras reconciliadoras e da tefilá, fazendo uma diferença positiva neste mundo, através da tsedaká.

 

Escolher a vida não é necessariamente simples ou óbvio. Nós sabemos disso, Moshé sabe disso e Deus sabe disso. Sabe que temos muitas chances de errar em nossas escolhas, de seguir más influências, de não ponderar corretamente.

 

Como toda ação, essas escolhas que realizamos vem com conseqüência. Sabemos que por algumas dessas decisões, conscientes ou não, terão resultados negativos. Tanto, que podemos ter nossos nomes apagados da história. Pode nos parecer que Deus é exagerado em relação às punições caso escolhamos esses “outros” caminhos. Porém as escolhas que fazemos individual e coletivamente levam a uma sociedade mais ou menos acolhedora e próspera.

 

Moshé nos diz que quando ambas as coisas já tiverem acontecido, tanto as bênçãos quanto as maldições, e retornarmos a Deus poderemos ter uma vida próspera. Isso significa que escolher pela vida não é fazer uma afirmação categórica de que não haverão mais erros. De que viveremos em um mundo somente de alegrias e paz. Significa dizer que faremos o melhor que podemos e que também arcaremos, responsavelmente, com as conseqüências de nossas ações.

 

Bênçãos e maldições fazem parte de nossa existência. A busca do nosso melhor caminho, do caminho da vida pode não parecer simples, mas é nosso desafio diário. Se ficarmos muito presos ao medo das conseqüências, podemos não nos arriscar e não descobrir que vida é essa que podemos ter. Podemos ter nossos nomes apagados da história se não formos atrás desse caminho. Se as conseqüências de nossas ações não nos fizer pensar e repensar em que direção estamos indo e para qual deveríamos ir.

 

Devemos ter a coragem de rever nossos caminho, escolher a vida para, só então, podermos ser inscritos no livro da vida.

 

Shabat shalom e shaná tová

Rabina Fernanda Tomchinsky-Galanternik