Certa vez visitei um Sefaradi que estava internado no hospital. Ofereci tocar o Shofar para ele e expliquei que se tratava de um costume ashkenazi para o mês de Elul. Ele reagiu da seguinte maneira: “eu nunca ouvi falar sobre este costume”. “Na verdade”, continuou, “eu nunca tinha ouvido falar que existiam ashkenazim até sair do Líbano. Eu entendia que havia judeu e não judeu, mas essa história de ashkenazi, foi novidade para mim” e, com delicadeza, recusou minha oferta.
 
Ser judeu sempre significou algo rico e amplo. Assim foi com as doze tribos, com os reinos de Israel e Judá, com saduceus, fariseus, essênios, ashkenazim, sefaradim, chassidim, mitnagdim, reformistas, conservadores, ortodoxos, anti-sionistas, sionistas, pós-sionistas, para citar somente alguns.
 
Que maravilha é pertencer a um povo com uma história tão rica e um presente que continua sendo marcado pela multiplicidade de caminhos, todos eles chamados por um único nome: judaísmo.
 
Mas quem é judeu? Em uma época em que os judeus viviam isolados da sociedade a sua volta e a autoridade religiosa decidia com exclusividade quem estava dentro e quem estava fora da comunidade, talvez fosse mais simples determinar quem era judeu.
 
Hoje, existem diversas maneiras de se responder a esta pergunta. Maneiras, muitas vezes, excludentes. Os mais humanistas dirão: judeu é qualquer um que se sinta judeu. Para o escritor israelense Amos Óz “judeu é todo aquele que é maluco o suficiente para assim se considerar”. A ultraortodoxia, por outro lado, dirá que judeu é aquele que tem pai e mãe judeus desde sempre e pratica a lei judaica de maneira rigorosa. Entre um extremo e outro haverá incontáveis variações.
 
Existem judeus religiosos e seculares. Reconhecemos que é legítimo ser judeu não-religioso. A conexão judaica de um indivíduo pode não passar pela sinagoga. É possível praticar um judaísmo cultural em que a conexão principal seja a música, o teatro, a literatura, o idioma hebraico, Israel, a ética judaica, entre diversas outras possibilidades.
 
No entanto, não existe uma porta de entrada cultural para a nação judaica. Não existe uma conversão para o judaísmo laico. Apenas o judaísmo religioso, nas suas diversas vertentes, desenvolveu um processo de conversão que passa necessariamente pela sinagoga e pelos rabinos. Assim, contraditoriamente, se você quiser optar por ser um judeu secular, terá antes que se converter para o judaísmo religioso para então passar pelo processo de laicização. Somente aquele que já nasceu na comunidade judaica poderá optar diretamente por um judaísmo laico.
 
O movimento reformista reconhece como judeu aquele que tem mãe judia e/ou pai judeu desde que receba uma educação judaica. Para o movimento conservador, apenas a mãe determina o judaísmo, mas existe uma grande abertura para a conversão desde que os critérios de estudo e prática sejam atingidos. Para a ortodoxia, com exceção de uma minoria Síria, há também conversão. No entanto, neste caso, o candidato terá de adotar um modo de vida ortodoxo para ser aceito no judaísmo.
 
Para tornar essa história ainda mais complexa, os critérios adotados pelo Estado de Israel são mais amplos do que aqueles adotados por qualquer uma das correntes judaicas religiosas. Para Israel, basta que um dos avós seja judeu ou judia para que a pessoa seja totalmente reconhecida pelo Estado e possa, portanto, receber plena cidadania. O critério eleito pelo Estado de Israel se baseou nas Leis de Nurenberg aplicadas pelo regime nazista. Como um símbolo de sobrevivência judaica, legisladores israelenses disseram, se essas pessoas eram judias o suficiente para serem perseguidas, serão judias o suficiente para se tornarem cidadãs israelenses.
 
Na prática, essa variação de critérios entre um grupo judaico e outro gera uma série de conflitos e, por vezes, situações dolorosas. Uma pessoa pode crescer como judeu em determinada sinagoga e, ao se mudar de cidade, descobrir que a única sinagoga de sua nova vizinhança não a reconhece como judia. Um soldado pode lutar pelo exército israelense e se sentir totalmente identificado com o judaísmo, mas no caso de falecer em um confronto, eventualmente não poderá ser enterrado em um cemitério judaico. Tudo isso sem citar questões complexas de casamentos ou divórcios não reconhecidos, entre diversos outros desafios.
 
A verdade é que vivemos um tempo em que as categorias tradicionais já não dão conta da riqueza das experiências judaicas. Por um lado, sentimos uma urgência de determinar quem faz ou não faz parte do clube; por outro, não possuímos critérios sofisticados o suficiente para abranger a complexidade da identidade judaica contemporânea.
 
Saíram do Egito 600 mil judeus segundo a narrativa da Torá. Os pesquisadores leem este número como tipológico, ou seja, um símbolo de que o povo era numeroso. O professor Bentzion Rosenfeld do departamento de História da Universidade de Bar Ilan, afirma que Romanos fizeram um senso no período do Segundo Templo de Jerusalém e descobriram que o número de judeus no mundo, incluindo a Terra de Israel, Egito, Babilônia e a região do Mediterrâneo, já havia atingido a casa dos milhões. Mais tarde, com o surgimento do cristianismo e islamismo, o número de judeus durante a Idade Média teria permanecido perto de um milhão apenas, segundo o demógrafo Sergio De La Pergola. A ciência, a medicina e a revolução nas condições de higiene foram responsáveis pelo aumento de apenas 2 milhões de judeus no século 18, para 16 milhões na véspera da Segunda Guerra Mundial, número que voltamos a atingir somente agora.
 
No lugar de perguntar quem é judeu, gostaria de propor a pergunta “o que significa ser judeu”. Porque perguntar quem é judeu pode servir de refúgio em defesa da pergunta mais complexa sobre o significado do judaísmo para você.
 
Se me questiono apenas sobre quem é judeu, resolvo uma questão identitária complexa de maneira binária. O mundo passa a ser dividido entre judeus e não judeus. Se estou no lado dos judeus, então durmo tranquilo com a sensação de assunto resolvido.
 
Estou propondo algo diferente. Acredito que a pergunta sobre o significado de ser judeu carrega o potencial de nos desafiar muito mais e, como consequência, agregar relevância e complexidade à nossa experiência étnica, religiosa e cultural.
 
De nada adiantará uma demografia robusta se esses números não se traduzirem em importância. De nada adiantará ser reconhecido pelos outros como judeu, se este reconhecimento não impactar nossa vida de maneira significativa.
Muitos de nós ficamos presos ao chamado judaísmo pediátrico. Recebemos alguma educação judaica enquanto crianças e não atualizamos essa instrução de maneira alguma. Alguns de nós estudamos em escolas judaicas, outros fizeram uma preparação para o Bar ou Bat Mitzvá, outros ainda tiveram também a sorte de obter uma experiência importante em um movimento juvenil.
 
No entanto, depois que crescemos, paramos de confrontar nosso judaísmo. Na vida adulta, exigimos o melhor para nossa formação profissional. Estudamos idiomas e fazemos pós-graduações. Não poupamos esforços para que nossa formação intelectual e vivencial seja da melhor qualidade possível. No entanto, falhamos na exigência do mesmo nível quando o assunto é judaísmo.
 
Muitos de nós permanecemos na vida adulta com a mesma formação judaica que tivemos quando crianças. Como se não houvesse um judaísmo adulto sofisticado, crítico, desafiador e profundo. Como consequência, não praticamos judaísmo porque não vemos qualquer sentido naqueles rituais aparentemente infantis. Apenas quando temos filhos, recorremos às instituições judaicas para que transmitam algum judaísmo para eles, afinal de contas, é uma questão “deles”. E então mandamos nossos filhos para as mesmas instituições que um dia frequentamos. Instituições que preparam crianças para um dia crescerem e enviarem suas crianças para lá, na melhor das hipóteses.
 
Não precisa ser assim. Gostaria de convidar vocês, adultos, a desafiarem seu próprio judaísmo. O que te faz judeu? Ser descendente de sobreviventes? Para Jean Paul Satre, o anti-semita é quem determina o judeu. Se for assim, estamos entregando para o inimigo a responsabilidade por nossa identidade judaica. Em outras palavras, estaríamos dizendo: sou judeu em função da Inquisição, das Cruzadas, dos Pogroms, de Hitler, de Ahmadinejad.
 
Temos o privilégio de viver em uma era segura, em que inexiste anti-semitismo como política de Estado. E se vierem anos de paz, o que sobrará de nosso judaísmo?
 
Devemos carregar com orgulho nossa história de resiliência, mas me parece frágil que este seja nosso único traço de identificação com o povo judeu.
 
Recomendo uma reflexão séria e adulta sobre nossa identidade judaica. Livros fascinantes com releituras da tradição judaica são lançados todos os dias. O judaísmo possui ferramentas para as decisões éticas que precisamos tomar no cotidiano em nossas escolas, trabalhos e nas relações familiares. Existe um acervo de rituais sofisticados que adultos podem incorporar e se deixar, por eles, transformar.
 
É possível que você também acredite que Deus é a força que está na natureza, mas não saiba que assim pensava Mordechai Kaplan, fundador do movimento reconstrucionista. É provável que você entenda religiosidade como a possibilidade de se encantar com a vida, embora não reconheça que este foi o pensamento do filósofo contemporâneo Avraham Iehoshua Heschel. Existe a chance de que você se identifique com a ideia de que é possível entrar em contato com uma dimensão sagrada da vida sem a necessidade das rezas e dos rituais, apesar de não saber relacionar este pensamento com o Guia dos Perplexos de Maimônides. Você pode pensar que a ciência está certa sobre a origem do mundo e que a religião nos traz uma leitura simbólica e um direcionamento moral, mesmo que não desconfie que Spinoza, Mendelson e Welhousen estão ao seu lado.
 
Não é possível transmitir para a próxima geração algo que passou ao largo de nós mesmos. Quando nossos filhos e netos percebem que nosso judaísmo se expressa em pouquíssimas ocasiões no ano, compreendem que judaísmo não é coisa para adulto e reproduzem nosso modelo.
 
Recomendo que nos preocupemos mais com a nossa própria educação e vivência judaicas. Tão importante quanto assegurar para as crianças uma boa formação judaica, é incorporarmos uma vivência judaica relevante para nossas próprias vidas.
 
Penso que todo judeu deveria se converter ao judaísmo. Recomendo que judeus se apropriem de sua identidade com responsabilidade.
 
Dois personagens bíblicos caminharam próximos a Deus. Assim está escrito: “Et haelochim italech noach”, “Noé andou com Deus”, mas para Abraão Deus disse: “Hitalech lefanai”,” “Ande à minha frente.” O Midrásh (Midrash Raba, 30, 11) construiu dois modelos baseados na diferença de linguagem. Ser como Noé é andar com Deus, ser puxado pelas mãos, aguardar um chamado. A palavra Noach significa acomodado. Já o modelo de Avraham denota a possibilidade de assumir responsabilidade, protagonismo, liderança, desbravar novos caminhos. O judaísmo pediátrico se assemelha ao modelo de Noach, já o judaísmo sofisticado que quero propor exige um protagonismo semelhante ao modelo atribuído ao primeiro patriarca.
 
Neste Iom Kipur, momento em que muitos judeus recorrem a uma sinagoga mesmo que seja para ouvir o último toque do shofar, esse sim para ashkenazim e sefaradim, penso que é apropriado se questionar de maneira profunda sobre o significado de nosso judaísmo. Hoje é o dia adequado para substituir a pergunta “quem é judeu?” pela pergunta mais complexa “o que significa ser judeu?”, mesmo que cheguemos a conclusão que ser judeu significa se questionar uma e outra vez ao longo da vida sobre o significado de ser judeu.
 
Que sejamos confirmados no livro de uma experiência judaica sofisticada.

 
Gmar Chatimá Tová!
Rabino Michel Schlesinger.

 
 
__________________________________________________________________________________________
Mensagem de Rosh haShaná
Diálogo Intra-Comunitário
Este foi um ano repleto de desafios no campo do diálogo intra-religioso. Judeus ortodoxos e liberais protagonizaram algumas disputas que abalaram a já sensível relação entre esses diferentes grupos da nossa comunidade.
 
O primeiro ministro israelense, Benjamim Netanyahu, tomou algumas iniciativas no sentido de enfraquecer o pluralismo religioso judaico em Israel. A primeira delas foi o arquivamento, depois de quatro anos de discussão, de proposta para a criação de um setor igualitário no Muro das Lamentações (Cótel). Depois de se comprometer com a abertura oficial de um local onde homens e mulheres pudessem rezar juntos, como fazem em 80% das congregações da diáspora, o primeiro ministro israelense capitulou às pressões da ultra-ortodoxia e engavetou o projeto de democratização da ruína ocidental do antigo Templo de Jerusalém.
Ato contínuo, Bibi também protagonizou um retrocesso no reconhecimento das conversões realizadas pela ortodoxia moderna, movimento conservador e movimento reformista, excluindo centenas de milhares de judeus da possibilidade de adquirirem cidadania israelense por meio da Lei do Retorno.
 
Antes da criação de Israel, o rabinato ortodoxo da Palestina havia celebrado um acordo com Ben Gurion para manter sob sua supervisão as questões religiosas do futuro Estado de Israel. Em troca, apoiariam aquele que se tornaria o primeiro primeiro-ministro do estado judeu. Com o passar do tempo e diversas ações judiciais, as demais denominações judaicas conquistaram alguma legitimidade naquele Estado. A recente decisão retrocede nesses avanços.
 
Finalmente, foi publicado pelo rabinato de Israel uma “lista negra” com nomes de 160 rabinos de diferentes países da diáspora e diversas linhas religiosas cujas conversões deveriam ser consideradas suspeitas. No Brasil, também houve sinais de retrocesso no diálogo intra-religioso. No ano passado, preocupada com a polarização entre ortodoxos e liberais em São Paulo, a Federação Israelita lançou um projeto de diálogo entre rabinos de diferentes correntes religiosas. Depois de alguns encontros exitosos que incluíram estudo, gravação de mensagem de vídeo conjunta, discussões de temas de interesse da comunidade e certa confraternização social, o projeto foi descontinuado por decisão de alguns rabinos da corrente ortodoxa. O motivo? A realização de um casamento judaico homossexual por uma comunidade liberal da cidade.
 
Fosse a concordância um pré-requisito para o diálogo, este nunca aconteceria. Dialogamos justamente porque vemos na conversa, uma oportunidade de aperfeiçoar nossas convicções. No encontro com o outro, compreendemos de maneira mais profunda quem somos e aquilo que nunca seremos.
No que tange a seus posicionamentos perante questões de gênero, conflito palestino-israelense, conversão, inclusão de portadores de deficiências física e mental, diálogo com a sociedade maior, acolhimento de refugiados e engajamento político, a comunidade parece estar se dividindo em dois acampamentos, um inclusivo e outro de exclusão. Embora o sectarismo pareça estar mais presente no campo da ortodoxia e a inclusão no campo liberal, existem liberais que excluem e ortodoxos que convivem em paz com as diferenças. A superação do anseio primitivo de exclusão é um desafio comum a todos os seres humanos, mas apenas alguns decidem dar este passo. O fato é que o acirramento das relações pode gerar uma ruptura da comunidade judaica irreconciliável.
 
Como representante da Conib para o diálogo inter-religioso, mantenho encontros com católicos, evangélicos, muçulmanos, membros de religiões afro-descendentes, ateus, espíritas e budistas. Como se pode imaginar, discordamos em quase tudo. Temos visões distintas não apenas sobre homossexualidade, mas também em temas como celibato, aborto, vida após a morte, messianismo, eutanásia, entre outros. Nossa discordância, no entanto, não nos impede o encontro. Urge a necessidade de reanimar o diálogo intra-religioso, mais desafiador que o inter-religioso. Quanto mais próximo o outro, maior é a ameaça que representa ao que sou. Aquele que difere de mim totalmente me assusta menos, pois as fronteiras entre nós estão mais claramente demarcadas. Aquele que se parece comigo sem ser igual, todavia, representa uma ameaça muito maior porque desafia constantemente cada uma de minhas posições e práticas.
O número de judeus no mundo equivale à margem de erro do senso da China. Somos apenas 15 milhões de indivíduos, 100 mil no Brasil. Não podemos nos dar ao luxo da divisão porque ela gera nosso enfraquecimento físico e moral. Nossa diversidade é bem-vinda desde que não se transforme em ruptura. As recentes decisões do gabinete israelense bem como a postura de alguns rabinos ortodoxos paulistanos colocam em risco uma tradição cuja pungência histórica está justamente na capacidade da união sem, no entanto, o apego fanático à uniformidade.
Essa perspectiva pluralista acompanhou o judaísmo desde sua gênese. O judaísmo clássico convivia muito bem com a noção de uma fé que tem espaço para diferentes pontos de vista, por vezes contraditórios. Para Max Kadushin, autor judeu do século 20, os sábios do Talmud estavam equipados para trabalharem com a noção de muitas verdades complementares, sem a necessidade de que uma se sobrepusesse à outra.
 
No século 19, as correntes judaicas liberais resgataram a noção de uma religião capaz de conviver em paz com a dúvida. A ideia de que nosso conhecimento é sempre parcial e provisório, característica do pensamento científico, foi reincorporada ao campo do pensamento religioso judaico. Quando acredito haver apenas uma resposta correta para cada pergunta de fé, me aproximo de uma postura intransigente, preconceituosa e excludente. No momento em que admito existir um único caminho correto, passo a deslegitimar toda decisão diferente da minha.
 
Precisamos reforçar a noção de dúvida dentro do campo da religião. Devemos admitir que existem muitas formas de ser judeu e que não existe uma hierarquia entre elas. Este será o único caminho para reconciliar as diferentes correntes judaicas.
 
O momento é de moderação. Existem judeus que praticam seu judaísmo sem deslegitimar a prática de outros judeus. No entanto, existem aqueles que sentem a urgência de desclassificar o outro para se afirmar como judeu. Esta não é a postura judaica que prevaleceu ao longo dos séculos e deve ser superada também em nossos dias. Devemos exercitar o pluralismo em todas as direções. Devemos reconhecer o direito do ortodoxo de seguir de maneira rígida as regras rituais religiosas; admitir a prerrogativa do secular de encontrar sua inspiração judaica na música, no teatro, na história, na língua ou na poesia. Mas nosso pluralismo tem limite. O limite está justamente na impossibilidade de incluir aquele que, para ser incluído, exija a exclusão do outro. Em relação a este, não pode haver coexistência porque a deslegitimação do outro é a origem do fanatismo.
 
Enquanto a unidade nos fortalece como comunidade, a uniformidade limita a religiosidade e fomenta o fundamentalismo. Estamos em Rosh Hashaná, momento apropriado para refletir sobre nossas relações comunitárias. Justamente porque amamos Israel, queremos que este seja fator de aglutinação entre os judeus. Recomendo desenvolver uma cultura de que aqueles indivíduos e instituições que forem capazes de trabalhar conjuntamente, de cooperar entre eles, sejam recompensados com legitimidade política e verba para seus projetos. Por outro lado, aqueles que forem incapazes de atuar em rede, recebam um sinal cristalino de que não terão o apoio necessário para prosperar.
 
Não podemos admitir listas negras. No muro da existência judaica, precisa haver espaço para as diferentes manifestações culturais, sejam elas religiosas ou não.
 
Que 5778 seja um ano de diálogo intra-religioso. Que saibamos recuperar nossa capacidade de conviver com o dissenso. Que a provisoriedade de nossas respostas seja vista como uma vantagem. A comunidade judaica será tão forte quanto for sua capacidade de união sem, no entanto, buscar a uniformidade característica dos fanatismos.
 
 
Shaná tová!
 
Rabino Michel Schlesinger