O nosso querido rabino Ruben Sternschein nos ressalta não ser verdade que “ninguém é insubstituível”; ao contrário, somos todos, e cada um de nós, sim, “insubstituíveis”. E deles, nossos tão amados, nos lembramos praticamente todos os dias, todos os momentos, ao longo de uma vida inteira. Mas principalmente hoje, neste Izkor de Iom Kipur 5784, mais do que nos demais dias, lembramos com saudade infinita, mas também com o coração cheio de emoção, de gratidão e amor, dos que nos deixaram neste mundo e que ora, certamente, habitam as Alturas, sob as asas de nosso Criador. Certamente, já não podemos ouvir os seus passos, mas continuamos sentindo com intensidade a sua presença. Por eles oramos e pedimos para que continuem intercedendo por nós, para que tenhamos uma vida com plena saúde e que tenhamos fé e perseverança no cumprimento dos planos de Hashem.

Muitas vezes podemos até sentir um certo sentimento de “perda”; e falar em perdas é falar em solidão, tristeza, desesperança, medo e uma sensação de vazio; a definitiva interrupção da convivência física com quem amamos, e que nos foram tão próximos.

E por que isso? Por que sofremos tanto mesmo sabendo que essas perdas ou partidas inesperadas são inerentes à vida e que, portanto, não podemos controlá-las? Não há respostas para as perguntas acima; mas o fato é que nunca estaremos prontos para nos acostumar com a falta dos que amamos. 

O que fazer então? Não amarmos? Não nos permitirmos gostar de alguém pelo simples fato de que seremos, mais cedo ou mais tarde, deixados para trás na vida, entregues às nossas angústias e remorsos por não termos dito tudo ou feito o suficiente por eles? Creio que não. Um amor de pai e mãe, o carinho de um amigo ou afeto de uma relação a dois, deve sempre se sobrepujar ao medo da perda. A perda é inevitável; o sentimento, não; devemos nos lembrar sempre daqueles que amamos para que, quando nos faltarem, saibamos que amamos e que fomos amados, que demos e que recebemos todo o carinho genuíno, que construímos um sentimento que nenhuma perda poderá apagar. Este sentimento transcende o espaço e o tempo, não se limita ao contato físico; ele se torna parte de nós, impregnado em nossa alma, nos confortando nos dias difíceis, sendo cúmplice de nossas vitórias pessoais, norteando nossa conduta, nos fazendo sentir eternamente amados.

“Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós”.

Neste sentido, a nossa CIP, até mesmo desde pouco antes de sua fundação, nos idos de 1936, contou também com rabinos de formação ortodoxa, conservadora e reformista, que muito contribuíram e contribuem para a formação da identidade da congregação e, desde então, com a abnegada participação de seus voluntários e voluntárias, rabinos e profissionais, criou a sua própria Chevra Kadisha – com o apoio do nosso não menos valoroso e dedicado Grupo da Costura da Boa Vontade – a partir da preocupação com as diferenças nos rituais funerários, de acordo com a origem de cada família, observados os princípios litúrgicos e tradicionais judaísmo conservador e liberal, trazidos e transmitidos pelo saudoso rabino Fritz Pinkuss z’l.

Continuar esse legado é a mais merecida e nobre maneira de reverenciarmos esses que já partiram e aqueles que ajudaram tanto na existência de nossa amada CIP – homenagear quem já partiu é manter viva a memória daqueles que nunca desaparecem do nosso pensamento.

Hamakom ienachem etchem betoch shear avelei Tzion v’Ierushalaim

Que D’us vos conforte junto aos enlutados de Tzion e Jerusalém.

 

Sergio Cernea

Chevra Kadisha da CIP