“Não é inteligente o que você faz“, disse um empresário viajante a um pescador que encontrou à beira do rio, pescando com uma vara, “por que não tentas pegar uma rede?”.

– Para quê? – perguntou o pescador.

– Para poder pescar muitos pescados ao mesmo tempo!

– Para quê?

– Para vendê-los

– Para quê?

– Para ganhar dinheiro.

– Para quê?

– Para comprar um barco, ir até o mar e pescar muito mais pescados ainda!

– Para quê?

– Para ganhar muito mais dinheiro ainda!

– Para quê?

– Para fazer o que você quiser…

– É exatamente o que estou fazendo!

 

A pergunta “para quê?”, que pode soar muitas vezes utilitarista, ganha uma função muito mais ampla quando não inclui o verbo “servir”. Se, ao invés de “para que serve?”, perguntarmos somente “para quê?”, podemos questionar os propósitos e garantir o sentido do que fazemos, como e com quem nos relacionamos, e o sentido de nossa vida toda. Perguntas como “por quê somos como somos?”, “para quê temos as características que temos?”, podem providenciar ou revelar o sentido de nossa identidade e personalidade.

Para quê e por quê são perguntas essenciais, que devem acompanhar também todo empreendimento institucional e toda prática religiosa.

A famosa história de José e seus irmãos nos acompanha a partir desta parashá. Várias de suas cenas ganham relevância e ensinamentos se as questionarmos desde o “para/por quê”.

Para quê sonhou esses sonhos de grandeza e os contou desse modo? Por quê Deus o protege na cadeia e não da cadeia, na escravidão e não de ser escravo?  

Uma interpretação teleológica da história, isto é, que busca o sentido da narrativa,  diria que José precisou se educar na adversidade para descobrir nas suas capacidades propósitos nobres e maiores do que ele mesmo. Ou seja: José era capaz de ser um grande líder que salvará a região e sua família da seca. Tinha a capacidade de perdoar e conter e abraçar e ajudar seus irmãos a crescer e superar invejas, em prol de uma personalidade mais construtiva e produtiva.

Entretanto, ele respondia à pergunta de para que tenho essas capacidades dizendo para me destacar, para ganhar poder, para governar. 

Muitos líderes se perdem ao chegar ao poder pois perdem o propósito que os impulsionou no começo da jornada. Alguns nem tinham outro propósito além do próprio poder.

Todo poder é uma capacidade. Todos possuímos poderes em todas as situações.

Que possamos perguntar com coragem para que temos os poderes que chegam às nossas mãos em cada circunstância, que tenhamos a sabedoria para encontrar as respostas e a responsabilidade para realizá-las.

Shabat Shalom,

Rabino dr. Ruben Sternschein