Quando o rabino filósofo A. J. Heschel, disse que ao marchar do lado de Martin Luther King pelos direitos dos negros nos EUA, sentiu que “as pernas rezavam”, ecoava, na verdade, o judaísmo todo.
Parece-nos muitas vezes que ser judeu é pertencer a um clube privado repleto de rituais vazios e de pessoas preocupadas apenas com si próprias, com o seu bem-estar imediato e material ou com alguma vida futura em outra dimensão. Nada mais longe da verdadeira essência do judaísmo.
Moisés se assume como hebreu na narrativa bíblica quando incorpora e sente o sofrimento dos escravos mesmo antes de saber que eram seus irmãos. Quando ainda pensava que ele era filho do faraó (Êxodo, capítulo 3).
Na semana passada, a Torá tinha incluído entre os requisitos da santidade, nada menos que evitar o sofrimento alheio, pagar em tempo os salários, evitar as intrigas e ser proativo na oferta de ajuda toda vez que ela estiver disponível em nossas mãos (Levítico, capitulo 19).
A parashá desta semana continua esse espírito. Profanar o nome divino não se vincula apenas a rituais e sim, também, ao comportamento social e inclusive comercial. A forma como se realizam celebrações e festas, a forma como nos alegramos e reunimos com amigos e parentes, os objetivos e motivos de alegria e inclusive os negócios e a forma de negociar, podem, segundo o talmud, acrescentar ou diminuir santidade.
Mais ainda: o humanitarismo é requisitado e medido nesta parashá no comportamento com animais e plantas. O detalhe dos sacrifícios inclui o cuidado com a forma de matar animais, os propósitos e o tempo. Não podia matar um animal apenas para alimentação e devia ser da forma mais rápida possível e também não podiam ser sacrificados membros (animais) de uma mesma família no mesmo dia, uns frente a outros.
Nestes dias temos testemunhado a tragédia de pessoas pobres que perderam o pouquíssimo que tinham. Estender a eles nossa mão, o máximo possível e em forma proativa, é para nós, praticar judaísmo. Talvez seja a prática mais urgente e sagrada do momento.
Shabat shalom
Rabino Dr. Ruben Sternschein

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