Embora Chanucá seja conhecida como a festa das luzes, gostaria de propor uma releitura mais complexa da proposta e ver nela a festa dos contrastes.
 
Além da pequena lenda marginal do suposto milagre do óleo, como sabemos, a historia principal de Chanucá se trata de uma luta que reivindica o direito de nossos antepassados a viverem como judeus na terra de Israel, durante o domínio helênico-seleucida. Essa luta começou sendo apenas cultural, aparentemente sem disputas políticas nem físicas. Cada pessoa ou grupo se enfrentava, como nós hoje, com a pergunta da tensão ou do equilíbrio entre o judaísmo e a cultura dominante. Alguns viam nesse contraste uma tensão excludente, e optavam radicalmente pela assimilação. Outros, sob a mesma premissa excludente, escolhiam radicalmente o isolamento. Se o judaísmo é incompatível com a modernidade, diziam, como dizem alguns hoje, então ficaremos apenas com o judaísmo. Alguns não eram cientes dos contrastes e provavelmente se assimilavam sem perceber, e por fim alguns abraçavam o contraste como fazemos os judeus liberais hoje dizendo:  ambas culturas se enriquecem no encontro. Trata-se de um diálogo, de uma troca e não de uma disputa.
 
O segundo contraste acontece quando a cultura dominante impõe pela força sua lei proibindo práticas judaicas. Embora os rebeldes triunfem e reconquistem o templo, reinaugurando-o (chanucá significa inauguração), pagam um preço de muitas mortes nos combates, entre elas,  todos os líderes da revolta, com exceção de um. Sim, os macabeus ou hasmoneos, com exceção de Simeon, morrem tragicamente nos combates. Ou seja, Chanucá é uma festa alegre de triunfo e conquista que fica pálida diante da morte trágica que custou.
 
Finalmente as velas são acesas, mas sua luz não pode ser usada para iluminar utilitariamente. Apenas para lembrar a história. Trata-se de uma luz que não deve iluminar tecnicamente. Só trazer uma perspectiva diferente.  Inclusive devem ser colocadas no canto da janela para compartilhar a luz, divulgar a mensagem, porém, aparentemente apenas no canto, na minha opinião para não ofuscar nem invadir outros com nossa luz.
 
Na parashá que sempre acontece na semana de chanucá, aparecem vacas gordas junto com vacas magras, irmãos que se ajudam e protegem ao tempo que desconfiam e se testam.
 
O poeta Israelense Yehuda Amichay sugere que um ano não lembrou de acender as velas, nem lembrou da sua infância gravada para sempre na sua janela. Ou seja, mais um contraste: sua infância não lembrada, permanecia gravada de todo modo em sua janela. Como se as velas não acesas também pudessem iluminar.
 
Chanucá, festa de velas que como toda luz ilumina a escuridão e traz também algumas sombras. Talvez para desafiar ou treinar nossa capacidade de olhar, administrar e viver os contrastes.
 
 
Chag sameach!
Shabat Shalom.
Rabino Dr. Ruben Sternschein.