Nesta semana iniciamos o quarto livro da Torá, o livro de Bamidbar, conhecido também como o livro de Números. Esse livro, depois de extensivas explicações de como os Cohanim (sacerdotes) deveriam se comportar e de como a comunidade deveria se manter pura, vai se dedicar aos anos de boa convivência no deserto, nos longos anos de espera para chegar à Terra Prometida, e por isso Bamidbar (no deserto).
Números se refere ao fato de termos diversos censos, especialmente nesta primeira parashá. Quantos homens poderiam fazer parte do exército, e quantos homens faziam parte da tribo de Levi, especializada em cuidar do Mishcán, do tabernáculo. Parece uma informação tão supérflua, saber quantos homens fazem parte deste grupo de pessoas, afinal, sabemos que nenhum deles, com exceção de dois, entrarão na tão desejada Terra Prometida.
Assim como todos os anos, estamos no Shabat prévio à festa de Shavuót. Festa em que celebramos a entrega da Torá a esse mesmo povo que estava no deserto. Quando o livro de Bamidbar começa, teoricamente, já recebemos a Torá no Monte Sinai, mas é durante esse livro que teremos as primeiras expressões concretas de termos aceitado realmente o pacto com Deus.
Os, aparentemente, desnecessários censos deixam de ser supérfluos. Porque cada um realmente conta. O filósofo medieval Yehuda haLevi afirmava que o evento no Monte Sinai é incontestável porque as testemunhas passaram seu testemunho de geração em geração até os dias de hoje. Neste sábado à noite, ao celebrarmos a entrega da Torá, estaremos confirmando que este evento realmente aconteceu.
Porém, questiono se o testemunho que celebramos na atualidade é de um evento magnífico e pomposo que aconteceu aos pés do Monte Sinai, ou de uma corrente milenar que foi passada de geração em geração e que nos une à geração do Monte Sinai.
Shavuót só pode acontecer ano após ano porque cada um de nós decide receber a Torá novamente, assim como nossos ancestrais receberam no Monte Sinai. Shavuót só pode acontecer porque cada um de nós está presente de alguma maneira. Shavuot só pode acontecer porque gerações a fio mantiveram o judaísmo vivo, vibrante e dinâmico.
Os censos do livro de Bamidbar nos obrigam a pensar nisso. Uma das formas de fazer censo é contabilizando meio shekel por pessoa (moeda da época – o shekel continua sendo o nome da moeda de Israel). Independentemente das posses de um ou de outro, o valor era o mesmo. Há momentos em que os de mais posse poderiam doar mais. Mas no momento de estarem presentes, somos todos exatamente iguais.
A entrega da Torá foi feita para todos. Cabe a cada um de nós recebê-la, todos os anos, todos os dias. Estejamos presentes. Celebremos esse pacto que se renova com cada um de nós e com todos nós como comunidade.
Shabat Shalom e Chag Sameach
Rabina Fernanda Tomchinsky-Galanternik

36111121 - western wall also known as wailing wall in jerusalem. the bible book in the foreground.