Força e coragem para olhar para o futuro

O ano inicia sempre em paralelo com o final da Torá. Com os momentos finais de Moshé e iniciais de seu sucessor Ioshua, um líder com as características militares necessárias para a iminente conquista da Terra Prometida.
Moshé, quando chama a Iohua, diz-lhes: “CHAZAK VE-EMATS (seja forte e corajoso), porque tu entrarás com este povo à terra…” A expressão CHAZAK VE-EMATS aparece outras quatro vezes apenas no primeiro capítulo do livro de Ioshua. A indicação é de que precisamos de muita força e coragem para esse novo empreendimento que será a conquista da Terra.
O ano que entra é um ano desconhecido. Um ano ao qual aspiramos boas oportunidades e conquistas, bons relacionamentos, menos dificuldades e menos sofrimento, mais autocontrole e mais empatia. Mas não sabemos de verdade como será esse ano.
O que sim sabemos é que milagres não acontecerão, de um dia para o outro nossa vida não dará um giro de 180 graus. Nem para as coisas boas, o que é um alívio, nem para as coisas ruins. Conhecendo essa realidade podemos imaginar algo de como será o próximo ano, especialmente se não fizéssemos nada a respeito.
Para enfrentar as mudanças que são necessárias e a manutenção do que é importante em nossas vidas precisamos de força e coragem.
Ioshua não sabia exatamente o que lhe esperava atravessando o rio Jordão, mas conhecia o povo, suas aptidões e defeitos. Vinha acompanhando esse grupo de pessoas desde a saída do Egito. Agora ele seria o líder e tomaria as rédeas dessa massa de gente em prol de um objetivo comum.
No entanto tendo alcançado o objetivo, o povo se dissiparia pelo território e isso também parecia assustador. Os relatos que seguem a conquista não são muito reconfortantes no sentido de povo, nem no sentido da relação com o divino. O povo fica extremamente dividido nas tribos e muitas vezes parte para caminhos que o leva para mais longe de Deus. Nós nos conhecemos bastante, alguns mais outros menos, alguns com mais experiências de vida e outros menos. Sabemos também quais as chances de podermos realmente mudar para melhor ou pior. Por isso necessitamos dessa mesma força e coragem. Porque enfrentar o desconhecido sem nenhuma experiência prévia não é tão assustador, já que não sabemos o que pode dar certo ou errado, enfrentar o desconhecido com nossa bagagem é o desafio. As crianças experimentam, se arriscam. Os adultos precisam de um voto de confiança e de força de vontade. Às vezes ficamos esperando que a situação esteja perfeita (o que raramente – ou nunca – acontece) para agirmos ou reagirmos. Que esse ano que acaba de entrar reforce as palavras CHAZAK VE-EMATS. Para que possamos ser fortes e corajosos no enfrentamento do desconhecido, podendo olhar para trás e para o que conhecemos de nós mesmos. Que este processo, durante todo o ano, ajude-nos a seguir conquistando não só a Terra Prometida, mas também nosso futuro e nossa relação com o outro e com o divino.
Shabat Shalom e Gmar Chatimá Tová
Rabina Fernanda Tomchinsky-Galanternik