Na parashat Vaishlách, encontramos um momento transformador na vida do terceiro patriarca, Iaacov, que reverbera pela história e identidade judaica.

Após anos de luta — contra Esav, Lavan, seus medos e talvez até mesmo ele mesmo — Iaacov luta com um ser misterioso. Essa luta intensa e enigmática o deixa ferido, mas triunfante, ganhando um novo nome: Israel. A Torá explica o novo nome (Bereshit 32:29): “Seu nome não será mais Iaacov, mas Israel, pois você lutou com Deus e com os homens e prevaleceu.”

A mudança de Iaacov, que significa calcanhar, para Israel, interpretado como aquele que luta com Deus, encapsula uma profunda mudança de identidade. Iaacov, o indivíduo, se torna Israel, o progenitor de um povo. Mas isso é mais do que uma transformação pessoal; é um projeto teológico e existencial para o povo judeu, que herda o nome Bnei Israel — os descendentes de Israel.

O nome Israel reforça a identidade de um povo que não tem medo de lutar com o próprio Deus. A luta noturna de Iaacov é emblemática de uma tradição judaica mais ampla de questionamento, desafio e envolvimento com o divino. De Avraham argumentando pelo destino de Sodoma a Moshé intercedendo em nome dos israelitas após a construção do bezerro de ouro, o relacionamento judaico com Deus nunca foi passivo ou submisso. Em vez disso, é dinâmico, cheio de perguntas, dúvidas e uma busca incansável por compreensão.

Em um mundo que frequentemente exige certeza e conformidade, Israel nos lembra que a luta não é um sinal de fraqueza, mas de profundo envolvimento. Ser judeu é lutar — com fé, com ética e com as complexidades da própria vida. É manter espaço para dúvida e diálogo, permanecendo firme no compromisso com o bem, a paz, e a justiça.

A luta de Iaacov/Israel o deixa mancando, um lembrete permanente do encontro. No entanto, ele emerge mais forte em espírito. Essa dualidade — ferido, mas resiliente — define a experiência judaica. Ao longo da história, o povo judeu enfrentou exílio, perseguição e adversidade. Como Iaacov, carregamos cicatrizes, mas nos recusamos a sucumbir ao desespero. Como a Torá nos ordena (Devarim 30:19): “Escolha a vida, para que você e seus descendentes possam viver.”

Ser descendente de Israel é incorporar resiliência. É transformar dor em propósito, levantar-se repetidamente, mesmo quando as probabilidades parecem intransponíveis. É ver em cada desafio uma oportunidade de crescimento e renovação.

Como descendentes de Israel, herdamos não apenas um nome, mas uma missão. Somos um povo que luta com Deus, com a realidade e conosco mesmos. Somos um povo que escolhe a vida diante da adversidade, que abraça a complexidade e se compromete com o aprendizado ao longo da vida. O legado de Israel é um chamado à ação: viver corajosamente, buscar justiça e construir um mundo digno da presença de Deus.

Que nós, como Bnei Yisrael, honremos esse legado continuando a jornada sagrada, trazendo luz à escuridão e nos esforçando para cumprir nosso maior potencial. Ao fazer isso, levamos adiante o profundo presente de nosso ancestral, cujo nome e espírito vivem em nós.

 

Shabat Shalom,

Rav Natan Freller