A parashat Tetsavê, assim como a parashat Terumá, é uma parashá em que há uma abundância de detalhes. A parashá da semana passada descreveu os materiais e os passos necessários para a construção do Mishkán e da tenda da reunião, de onde seria possível escutar a voz de Deus. Esta semana, lemos sobre as roupas que vestiria Aarão, o Cohen Gadol, e seus filhos. São descritos seus materiais e cada uma de suas peças, e também a forma e a ordem em que seriam vestidas. Tanto detalhamento há de parecer desnecessário para o leitor em certos momentos. 

Às vezes, esquecemos que o mundo em que vivemos está baseado nesses detalhes. Olhamos à nossa volta e vemos a completude das coisas, mas nem sempre nos atentamos para o processo, o passo a passo que levou a que elas existam hoje.

A rabina Naama Dafni ensina que essas parashiot, nas quais há uma criação conjunta entre o que Deus ordena e o que o homem cria, mostram claramente a diferença entre criar sozinho e criar em grupo, em comunidade, em parceria. O mundo, na parashat Bereshit, foi criado através da palavra: Deus fala e se faz a luz, separam-se as águas, aparece a terra, os luminares… Deus cria o mundo sozinho em seis dias com uma certa ordem, sem descrever os detalhes de como isso acontece, sem nomear os materiais. Deus cria, nomeia e existe.

Depois de ter criado o mundo, Deus tem parceiros, os seres humanos. Quando chega o momento de criar um santuário e preparar aqueles que servirão a Deus em nome do povo, a criação se converte em uma tarefa conjunta, e isso é sempre mais complexo. Deus descreve a Moshé como deve ser, e Moshé deve transmitir com exatidão o desejo Divino que será criado por seres humanos. Para conseguir, precisamos de muita conversa, preparo, detalhe, precisamos combinar e compreender.

A tenda da reunião era um lugar de encontro entre Deus e o povo de Israel durante décadas da nossa história e, como em todo encontro, a presença de todas as partes, suas contribuições, participação e compromisso são importantes, necessárias, imprescindíveis.

Pensando na parashá da semana passada, qual é a nossa contribuição à nossa tenda da reunião? Como somos parte da construção de nossa comunidade? Já em relação à parashá desta semana, Tetsavê, como nos preparamos cada dia para nos apresentarmos diante de Deus? O que mostramos e o que escondemos com as roupas que vestimos? Qual é a nossa mensagem em nossa forma de nos apresentarmos diante de Deus e diante de nossos semelhantes? Quais são os acordos de valores e práticas dentro de nossa comunidade?

A parashá desta semana nos apresenta, em sua parte final, o sacrifício diário que deveria ser feito duas vezes ao dia, de manhã e à tarde, que levava o nome de Tamid, que significa algo que acontece regularmente. A palavra “Tamid” também quer dizer “sempre”. 

O sacrifício do Tamid é, de certa forma, aquilo que transformamos nas nossas rezas diárias. Em nossa tradição, rezamos três vezes ao dia: Shacharít e Minchá são rezas obrigatórias, e Arvít é opcional.

Três vezes ao dia, paramos para sermos chamados a ver o detalhe, para prestar atenção aos pequenos e grandes milagres. Três vezes ao dia, temos a oportunidade de nos darmos espaço e tempo para valorizar o cotidiano, o regular, aquilo que às vezes parece só um detalhe mas que nos sustenta e dá forma à nossa vida.

Nosso minián cria duas vezes ao dia um espaço de reza em comunidade no qual construímos juntos a experiência do detalhe e do cotidiano. Tamid, sempre Tamid, regularmente. Todos estão convidados a fazer parte.

 

Shabat shalom,

Rabina Tati Schagas