No último domingo, dia 26, a sucá virtual da CIP recebeu a conferência internacional de lançamento do livro “A Guerra do Retorno”, escrito por Einat Wilf e Adi Schwartz. A iniciativa faz parte da Academia CIP de Cultura e Estudos Judaicos, e foi realizada em parceria com o StandWithUs Brasil e a Editora Contexto. A obra apresenta uma perspectiva inédita sobre o conflito árabe-israelense.

Einat Wilf, uma das mais importantes intelectuais públicas de Israel, pode expor ao público a principal tese do livro: o retorno dos refugiados palestinos é mais prioritário, para esse lado do conflito, do que o estabelecimento de dois Estados para dois povos. Segundo a autora, nenhuma hipótese de negociação para a paz será aceita pelo lado palestino se não contemplar o retorno dos refugiados não apenas ao território reconhecido como Estado palestino, mas sim sobre toda a área “do rio ao mar”, como costumam dizer. 

Segundo a ex-parlamentar,  ao contrário da narrativa vigente sobre o conflito — que pressupõe que há dois povos, com duas narrativas e o mesmo interesse em um pedaço de terra, e que, portanto, a solução é dividi-la entre esses dois povos — há uma divisão assimétrica. “Os palestinos consideram qualquer presença israelense ilegítima: nos chamam de colonizadores, cruzados, nos comparam aos estadunidenses no Afeganistão. Pra eles, nós somos estrangeiros e temporários — ou seja, em algum momento vamos desaparecer, assim como os britânicos saíram da região da Palestina e os americanos saíram do Afeganistão, um dia, os israelenses também se vão”, afirma Wilf a partir das evidências do seu livro. 

A autora reforça que o lado palestino não aceita a conexão histórica dos judeus com a região, ao contrário dos judeus, que sempre reconheceram a conexão palestina com a região. Ela reforça o pragmatismo sionista:

“Se houver um palestino que diga: ‘olha, o conflito acabou, nós entendemos que vocês também têm uma conexão histórica com esta terra, nós reconhecemos e aceitamos isso, mas vocês não podem ter tudo, nem nós. Não vamos demandar retorno e você não vai ocupar tudo como está escrito na Torá; vamos dividir a terra.’ Se alguém disser isso aos judeus, o número de israelenses que recusaria essa proposta é minúsculo, e seriam superados pela maioria dos cidadãos de Israel.”

O rabino Ruben Sternschein, que mediou a conversa, questiona quais as possibilidades de mudança. Afinal, se é uma questão conceitual, de aceitação da autodeterminação do povo judeu na terra de Israel, não estamos falando mais de política, mas sim de educação.

“Na educação e na filosofia, nós falamos sobre como uma pessoa se define a partir do reconhecimento de outras pessoas que não são ela. Isso é um processo intelectual, ético, espiritual, não político”, disse o rabino Ruben.

A autora responde que a saída está em uma “transformação da identidade palestina”. Essa identidade está, segundo Wilf, pautada na ideia de combate aos invasores estrangeiros. 

“Agora, eles precisam de uma outra identidade, que diga ‘nós vamos construir nosso próprio Estado, ao lado do povo judeu’, o que é muito diferente. Isso não vai acontecer de um dia pro outro. A única forma de eles mudarem isso, é se todas as outras opções estiverem fechadas pra eles”, complementa.

O objetivo do livro “A Guerra do Retorno”, para Einat Wilf, é mostrar ao Ocidente que, enquanto o sonho do pleno retorno palestino for alimentado pelos países árabes e pelo próprio Ocidente, por meio da UNRWA (a agência ONU de assistência aos refugiados da Palestina), não haverá solução. “Como podemos esperar que os palestinos aceitem qualquer outra proposta de partilha, se há uma sustentação da tese de que um dia eles terão todo o território?”, questiona a autora.

André Lajst, diretor executivo da StandWithUs Brasil, que participou da atividade também como mediador, afirma que o livro escancara uma verdade que algumas pessoas não querem aceitar, presas em realidades que ajudam a nutrir suas próprias narrativas:

“Há fatos que são facilmente verificáveis e que são ignorados por pessoas, inclusive professores acadêmicos das melhores universidades do mundo (no Brasil, nos Estados Unidos, na Inglaterra), que insistem em repetir mentiras, fake news, pra encaixar dentro de uma narrativa específica Israel de uma forma extremamente opressora e ruim, e os palestinos como eternas vítimas”, afirma Lajst.

O livro “A Guerra do Retorno” está disponível para compra no site da livraria Contexto. Até o dia 03 de outubro, poderá ser adquirido com desconto por meio do link: bit.ly/GuerraDoRetorno

Confira o debate na íntegra, com tradução simultânea em português ou em inglês: