Construindo Israel… Mesmo à distância

Os limites da terra de Israel nunca foram claros. Nas descrições do Tanach podemos encontrar as fronteiras variando de uma passagem para outra. Até hoje em dia temos pessoas defendendo os limites de Israel diferentes dos que tem o atual Estado.

Estamos, na leitura da Torá, às vésperas de entrar na Terra Prometida. Esse é o último trecho do livro de Bamidbar, Números. O próximo livro,Devarim, serão os grandes discursos de Moshé, quem morre logo antes do povo atravessar o Jordão sob a liderança de Ioshua. Essas duas últimas parashiot são as últimas instruções, as últimas regras antes de entrarem. Neste momento central na história do Povo, após anos no deserto veremos duas tribos hesitantes de entrar na terra. Eles veem nesse lugar em que estão algo bom para seu rebanho e sua família e pedem a Moshé a autorização para ficarem por lá.

A primeira reação de Moshé é negar. Depois de 40 anos atravessando o deserto para chegar na desejada Terra, como podem pensar em não querer entrar? Como podem conceber o fato de que todas as outras tribos irão para esse lugar prometido e eles não? Como aceitar o fato de que todos irão entrar na Terra, lutar e conquistar, sabendo de todas as dificuldades que isso implica, e eles ficarão só olhando da outra margem do rio?

Realmente os argumentos são fortes, mas o desejo de estar naquele lugar é maior do que o de entrar na Terra. Após negociações realizam um acordo: entraremos, lutaremos, conquistaremos e construiremos. Depois disso voltaremos para essa margem do rio, na qual nos assentaremos com as nossas famílias e os nossos rebanhos.

Como diz o hino do Estado de Israel, a esperança de voltar à Terra perdurou por mais de 2000 anos, e hoje podemos ter o orgulho de dizer que temos o privilégio de viver em uma era na qual podemos ter não só um Estado judaico, como também que ele seja na Terra Prometida à nossos antepassados tantos anos antes. 

Podemos dizer que esses dois mil anos de diáspora são paralelos aos 40 anos de peregrinação do deserto. Houve andanças, sofrimentos, conquistas e finalmente essa espera por algo chegou ao fim.

A fundação do Estado de Israel também foi marcada por guerras, conquistas e construções. Por muitos anos se defendeu que a única maneira de poder apoiar o Estado era estando lá, trabalhando com as próprias mãos. Hoje, sabemos que essa não é a única possibilidade. Existem inúmeras formas de lutar, de conquistar e construir. De perto e de longe.

Na conquista da Terra no Tanach, se não fossem as próprias mãos, não haveria Terra de Israel. Hoje as “próprias mãos” podem ser até virtuais. 

As duas tribos (que no final acabam sendo duas tribos e meia – Reuven, Gad e meia tribo de Menashe) mesmo querendo viver longe, se comprometem a se dedicar. Depois vão voltar ao território que querem. 

Hoje, todos nós que vivemos fora do Estado de Israel poderíamos nos identificar com essas tribos. Temos várias razões que nos mantém vivendo longe de Israel. Por outro lado temos inúmeras razões pelas quais podemos apoiar o que acontece lá estando também perto. Hoje, a expressão do sionismo não é unicamente viver em Israel. Mas, temos que pensar na nossa responsabilidade como parte desse povo de ajudar aqueles que mantêm o Estado vivo e funcionando de perto. Seja através de palavras, ações ou dinheiro. Assim como essas tribos foram, lutaram e voltaram, nós daqui temos a obrigação de também lutar por esse nosso querido e insubstituível Estado.

O grande poeta Iehuda haLevi falou: אני במערב וליבי במזרח (ani bamaarav, velibí bamizrach) Eu estou no oeste, mas meu coração no oriente.  

Shabat Shalom 

Rabina Fernanda Tomchinsky-Galanternik