Todes já esperamos numa fila que, ao chegar no fim dela, não havia nada. Ou esperamos numa fila parada que não ia se movimentar, a não ser pela chegada de alguma pessoa mais atenta e proativa que descobriu e desfez o “nó” que a causava.
Nossa passividade e automatismo não se reduz a filas. Aplica-se ao modo como usamos ou não as máscaras segundo o que a maioria faz; como repetimos expressões como “judiar” ou “judiação”, que agridem o judaísmo e a judeidade, assim como em espanhol se diz “trabajé como un negro”, escancarando o racismo profundo de nossa cultura; ou como não vemos a humanidade das pessoas que moram nas nossas ruas ao passar do lado delas. Conversamos sem ouvir o que não é dito nas entrelinhas da fala e do silêncio, assistimos filmes e lemos textos do mesmo modo desatento ao sutil, ao profundo, ao que tem mais de um lado.
Nesta semana começamos o segundo livro da Torá, Shemót, e sua primeira parashá do mesmo nome enfatiza o efeito chave da atenção.
Surge um novo faraó que não reconheceu o convívio do anterior com os hebreus e o papel de José, e ele decide ver neles uma ameaça e matar seus bebês masculinos. Umas parteiras não se deixam levar pela lei e decidem atentar à humanidade dessas crianças e seus pais escravizados e salvá-las arriscando suas próprias vidas. Moisés cresce no palácio egipcio, mas decide se atentar ao sofrimento dos escravos. Já no exílio, vagando pelo deserto, decide parar, prestar atenção e ver como é que um arbusto arde em fogo sem se consumir.
Todas as cenas e todos os desenvolvimentos da narrativa dependem do modo como os personagens se colocam para prestar atenção ou não. Que possamos encontrar a coragem para nos atentarmos com sensibilidade e responsabilidade, com criatividade e compaixão a tudo que está a nossa volta e se passa dentro de nós e de cada personagem que participa da narrativa de nossas vida.
Shabat Shalom,
Rabino Ruben Sternschein