“O que fazer diante do mistério?” é uma pergunta chave, imprescindível, uma vez que é muito mais sobre o que ignoramos do que sobre sabemos. 

Isso que, até pouco tempo atrás, parecia ser apenas a postura dos alunos de Sócrates, que disse “só sei que nada sei”, se verifica hoje em todas as disciplinas. As bolsas de valores mundiais o mostram na economia, Newton e Einstein o mostraram na física, a COVID o mostra na medicina… Isso sem nem mencionar a psicologia, a filosofia, a educação e as religiões. 

Os grandes cientistas, filósofos e estudiosos de qualquer disciplina sustentam, com a força da humildade dos verdadeiramente sábios, que nunca temos certeza absoluta de saber nem aquilo que pensamos que sabemos. Que também existe aquilo que não sabemos que sabemos, além do que sabemos que não sabemos, e o infinito que nem sabemos que não sabemos.

Sobre nós, sobre o mundo, sobre o passado, sobre o futuro, sobre a natureza, sobre o cosmo, sobre o corpo, sobre a lógica e sobre a sem-razão. 

Diante do mistério, do inexplicável, alguns podem simular que nada acontece, que tudo está sob controle, que o pouco que sei é a única e toda a verdade. Eles viverão uma ilusão que poderá explodir a qualquer momento. Outros poderão acreditar que é questão de tempo, que tarde ou cedo saberemos tudo.

Alguns dirão que o que não sabemos é irrelevante justamente porque nada temos a fazer com aquilo ao qual não temos acesso. Alguns buscarão ferramentas alternativas às humanas e corriqueiras para acessar o desconhecido, como intuição, emoção, mística, revelação, fetiche, crença.

Outros ainda poderão desistir dizendo que, como não temos como saber, nem tentemos saber. Alguns poderão sentir medo pela fadada instabilidade, outros podem sentir desespero, e outros, ainda, paixão, como a atração que sentimos por tudo o que é inatingível e ao mesmo tempo perceptível: o horizonte. 

A parashá da semana começa com um evento revoltante e inexplicável: dois filhos de Aharão morrem repentinamente queimados por um fogo especialmente maior que dedicaram em um ritual.

Surgem, direta e figuradamente, diversas reações. Moisés diz a Aharão: “é o que Deus disse me santificarei dentro (ou entre) meus mais próximos”. Aharão cala. São introduzidos na cena “do nada” e por única vez na Bíblia, três personagens cujos nomes parecem revelar sua função: Misha-el (quem interroga Deus), Tzefan-el (o oculto de Deus) e Uzi-el (a força de Deus).

A reação de Moisés poderia indicar que existem outras dimensões e outras razões além do que percebemos. O mal pode ser bom, o bom pode ser mal. O imediato pode ter outras conotações, mais tarde o que vemos aqui pode significar outra coisa ali. 

A reação de Aharão é a introspecção, a humildade, talvez a revolta ou a desistência, ou talvez a aceitação dolorosa.

Finalmente os nomes dos três personagens indicam o questionamento que supõe que haveria respostas, que devemos sempre buscar, que viver é procurar sentido, que o mistério então é justamente a força e o motor que nos impulsiona a estar aqui vivendo.

 

Shabat shalom,

Rabino Ruben Sternschein