A parashá desta semana começa com Deus se apresentando a Moshé com um “novo” nome, um nome com o qual não havia se apresentado aos Patriarcas de nosso povo, o nome inefável de quatro letras, que em nossa tradição lemos e pronunciamos como Adonai. “Falou mais Elohim a Moshé e lhe disse: Eu sou Adonai” (Êxodo 6:2).

Moshé já havia pedido a Deus que fizesse saber seu nome (Êxodo 3:13), para garantir aos hebreus no Egito que Deus havia escutado e reconhecido seu sofrimento. É possível também que Moshé quisesse saber o nome de Deus para começar aquela relação, para que o Deus genérico se tornasse também um Deus pessoal. Nosso nome costuma ser a primeira informação que damos sobre nós mesmos; um nome possibilita também a interação e serve como substituto quando não estamos presentes fisicamente, permitindo assim a inovação e uma extensão da imanência. [01]

Na Torá, os nomes estão sujeitos a interpretação, muitas vezes dando força e definindo de algum modo quem são as personagens, de onde vêm, qual é seu destino. Uma mudança de nome frequentemente modifica o futuro dessa pessoa.

Da mesma forma, os diferentes nomes de Deus apresentam atributos distintos da Divindade. Utilizamos nomes variados em nossas rezas: Elohim (Deus), Melech (Rei), HaKadosh Baruch Hu (O Santo bendito seja), Adonai (traduzido como Eterno)… Cada nome invoca qualidades e formas distintas de nos relacionarmos com Deus.

Nossos sábios ensinaram que, nesse versículo do começo da parashá, Deus passa, em poucas palavras, uma mensagem clara a Moshé. Elohim é o nome que apresenta o atributo de Din, julgamento, e Adonai o de Rachamim, compaixão. Deus julgará e castigará Moshé, e também terá compaixão por ele, permitindo que se transforme em Moshe Rabeinu, que tira os hebreus do Egito e se torna mestre de mestres por muitas gerações.

Quantas coisas no nosso mundo se definem entre essas duas ações, julgar e ter compaixão? Os atributos de Deus podem nos ensinar a ser mais humanos e o exemplo divino pode nos aproximar do sentido que podemos dar a nossos nomes para ser a melhor versão de nós mesmos nesta terra.

Podemos nós também reconhecer esses aspectos de nossa existência? Sabemos quando colocar o julgamento em prática e quando ter compaixão? Com qual de nossos nomes nos apresentamos? O que desejamos que nosso próximo saiba sobre nós quando nos conhece?

Mais ainda, com que Deus nos relacionamos? O nome que usamos muda algo em nós mesmos? Quais são os atributos do Deus no qual acreditamos ou do Deus no qual não acreditamos? Será que a forma com a qual definimos a Deus impacta nossa fé ou falta de fé? Nós nos comunicamos sempre com o mesmo Deus? Ou em momentos diferentes de nossas vidas o relacionamento, as qualidades e nossas expectativas mudam?

No Talmud da Babilônia, Tratado de Brachot, os rabinos discutem o que é que Deus reza: “que seja minha vontade que minha compaixão vença minha ira, e minha compaixão se revelará em minhas virtudes, e tratarei meus filhos com a medida da compaixão e entrarei com eles na lei”.

Que sejamos capazes de nos perguntarmos e agirmos com base em nossas qualidades positivas, vencer nossa ira, aumentar nossa compaixão, saber perdoar e ver a todo ser humano com fé.

 

Shabat Shalom

Rabina Tati Schagas

 

[01] The Torah – A women’s commentary, p. 333.