CIP lança livro que destaca chegada a São Paulo dos judeus refugiados do nazifascismo
A Congregação Israelita Paulista (CIP) realizou no dia 05 de dezembro, o lançamento do livro “Olhares de Liberdade. CIP – Espaço de resistência e memória”, organizado pela historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro e que inclui textos dos três rabinos da Congregação: Fernanda Tomchinsky-Galanternik, Michel Schlesinger e Ruben Sternschein.
O lançamento contou com um bate-papo com os autores, costurado com uma emocionante apresentação musical com a participação da cantora Sheila Negro, do Maestro Natan Bádue, e dos cantores litúrgicos da CIP, Avi Bursztein e Alê Edelstein, que interpretaram clássicos da música brasileira e internacional, como Aquarela do Brasil, Papa Can You Hear Me (do filme Yentl), e a versão em Hebraico de Bring Him Home ( do musical Les Miserables), de forma a ilustrar a liberdade através da música.
A apresentação foi seguida do acendimento da quarta vela de Chanucá, coquetel e sessão de autógrafos.
“Olhares de Liberdade. CIP – Espaço de resistência e memória”
“OIhares de Liberdade” é dedicado ao reconhecimento da Congregação Israelita Paulista – CIP como um lugar de resistência e memória. Hoje, com 82 anos de existência desde a sua fundação em 1936, a CIP é distinta pelo seu patrimônio arquitetônico, religioso e cultural.
As histórias de vidas publicadas, algumas no formato de testemunhos, foram registradas pela equipe do Núcleo de Estudos Arqshoah do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação – LEER/USP.
O livro é dividido em três partes. A primeira traz três artigos, “Liberdades e limitações do livre-arbítrio humano nas fontes do pensamento judaico”, “Mitos e leis” e “A vivência plena da liberdade”, escritos pelos rabinos Ruben Sternschein, Michel Schlesinger e Fernanda Tomchinsky Galanternik, respectivamente.
Na segunda parte, a professora Maria Luiza escreve sobre “CIP, espaço de liberdade e acolhimento”. Já a terceira parte, “Artífices da liberdade”, reproduz histórias de vidas de judeus refugiados no Brasil, registradas por pesquisadores do Núcleo de Estudos Arqshoah do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (Leer) do Departamento de História da FFLCH.
“Este “Livro-Memorial” reúne histórias de vida com o intuito de não deixar esquecer o passado e as ações humanitárias dos fundadores da CIP, na sua maioria refugiados alemães do nazifascismo radicados em São Paulo, reunindo elementos importantes para a reconstituição das tradições judaicas, dos saberes, da cultura e das lutas pela (co)existência do povo judeu na Diáspora”, declara Maria Luiza Tucci Carneiro .
“Ao reconstituirmos as suas trajetórias históricas e as suas experiências junto ao espaço da CIP, procuramos demonstrar a capacidade que o ser humano tem de reabilitar a liberdade e a vida. Através do livro “OIhares de Liberdade” , a CIP reafirma os seus princípios de permanente defesa de uma sociedade democrática e igualitária que é “inegociável”, como afirma Marcos Lederman, presidente da CIP, na abertura do livro.
Para o rabino Ruben Sternschein, “no pensamento judaico a liberdade é um imperativo, um dever, uma imposição. Ainda que sempre relativa, a liberdade é obrigatória para poder dar algum sentido e fazer alguma diferença dando conta de que valemos a pena. A primeira das liberdades é escolher viver . As seguintes, escolher como viver e quem ser. É o que teorizaram as escrituras e realizaram os sobreviventes que fundaram a CIP”.
“A repetição da narrativa do Êxodo bíblico se transformou na oportunidade de resgatar a sensação de que um dia fomos refugiados. Talvez ainda exista uma parte de nós que permanecerá estrangeira para sempre. Esta percepção é importante para que haja a renovação constante de nosso compromisso com a liberdade. Ainda existem homens e mulheres, no século 21, que não atravessaram o Mar Vermelho. Esta obra de resgate das histórias de homens e mulheres que tiveram sua esperança na humanidade renovada, graças ao trabalho de acolhimento da Congregação Israelita Paulista, tem por objetivo nos alertar de que a travessia ainda não está completa”, destaca o rabino Michel Schlesinger.
“A sociedade precisa abrir espaço para a liberdade feminina e as mulheres precisam saber como ocupar esses espaços. Não adianta apenas termos o desejo de fazer, mas precisamos das ferramentas para isso. Esse espaço de liberdade também chegou para as mulheres aqui dentro da CIP”, destacou a rabina Fernanda Tomchinsky-Galanternik